Clássicos que você não gostou
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Re: Clássicos que você não gostou
César escreveu:Meu pai ligava pra minha mãe, não falava nada, e só deixava essa música rolar.
Tá no sangue...
Jabá- Guerra e Paz
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Re: Clássicos que você não gostou
César escreveu:Meu pai ligava pra minha mãe, não falava nada, e só deixava essa música rolar.
Tá no sangue...
Nem sei que música é, mas que romântico!
Karenina- Crime e Castigo
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Re: Clássicos que você não gostou
Natasha escreveu:César escreveu:Meu pai ligava pra minha mãe, não falava nada, e só deixava essa música rolar.
Tá no sangue...
Nem sei que música é,
Em que planeta você vive?
Natasha escreveu:mas que romântico!
Uma dose de ironia temperada com ciúmes.
Funcionou.
Jabá- Guerra e Paz
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Re: Clássicos que você não gostou
De um planeta diferente do seu - quem dera!
Karenina- Crime e Castigo
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Re: Clássicos que você não gostou
Cássia escreveu:O que você disse?
Aqui:
- Spoiler:
- Monteiro Lobato: Emília ou Eugenia?
Estou completamente desolado esta manhã. Recebi hoje de manhã a revista “Bravo” e fiquei chocado com a capa, que traz, em letras garrafais sobre um fundo rosa shocking (!!!), uma frase tirada de uma carta inédita de Monteiro Lobato em que ele elogia a Ku Klux Klan. No miolo da revista, há trechos estarrecedores de outras cartas inéditas em que ele simpatiza com o conceito absurdo [considerado científico na época] da eugenia, o estudo dos agentes sob o controle social que podem melhorar ou empobrecer as qualidades raciais das futuras gerações seja física ou mentalmente, que anos depois seria a base do arianismo nazista.
Para se ter uma ideia de como isso me impactou, vocês devem saber o quanto Monteiro Lobato significa para mim. Ele é mais do que um escritor de que gosto, é o homem que me ensinou a ler, que me mostrou todo o encanto que podemos experimentar com a leitura e com o conhecimento, que me levou à Grécia Clássica e à Terra do Nunca e à Espanha de Quixote, que me fez um morador do Sítio junto com milhões de outras crianças que eu nunca conheci, por distâncias no espaço e no tempo. Mas a minha admiração por ele não ficou só no campo da literatura infantil. Conforme ia crescendo, fui lendo sua obra adulta [com especial interesse por sua correspondência e contos] e admirava suas ideias e, principalmente, suas lutas: pela emancipação editorial no Brasil [fundou a 1ª. editora do país], pela escavação de petróleo [cavou o 1º. poço do país], pela educação, pela liberdade de imprensa, pela transparência e lisura na política entre tantas outras.
Sempre li e reli a obra de Lobato, o tenho como um dos formadores do meu caráter e personalidade, e nunca fui racista [pelo contrário] nem tinha me passado pela cabeça que ele pudesse ser taxado de racista até que, no primeiro semestre do meu curso de Letras, a professora de Produção Textual disse isso. A minha primeira reação foi: “Como é? Não entendi. Como assim racista?”. Sempre considerei as implicâncias da Emília, chamando Tia Nastácia de beiçuda, somente como isso, um traço menos positivo da personalidade egocêntrica dela. Ela xingava todo mundo, pegava no pé de todo mundo, até a Dona Benta ela chamava de velha coroca, por que seria diferente com a Tia Nastácia? Nesse caso, a meu ver, ainda há um agravante familiar: Emília xinga e despreza tanto a Tia Nastácia por que sempre quis ser da nobreza, ser marquesa, e renegava suas origens humildes. Sim, por que ela foi feita por Tia Nastácia com um paninho vagabundo e umas flores de Macela, Tia Nastácia é sua mãe renegada! Esse era só mais um dos traços de personalidade que faz de Emília um personagem tão tridimensional e original. Se os garotos não gostassem da velha Nastácia a tinham deixado na Lua [“Viagem ao Céu”] ou no labirinto do Minotauro [“O Minotauro”] sem se preocupar em resgatá-la. Além do quê, Lobato foi o primeiro a colocar uma negra como protagonista de um livro infantil, “Histórias de Tia Nastácia”, compilando histórias da cultura e folclore negros, denunciou os maus tratos contra os negros em contos como “Negrinha” e “Os Negros” [ambos do volume “Negrinha”], foi o único editor brasileiro a editar [e pagar por isso] Lima Barreto, cuja obra e vida foi devotada à sua raça! Sempre achei que essas acusações eram um excesso do politicamente correto de pessoas que desconheciam a obra e a vida do autor e citavam-no completamente fora do contexto histórico e social.
No entanto, os trechos das cartas publicados pela “Bravo”, infelizmente, não deixam dúvidas: Monteiro Lobato, em um certo período da sua vida, foi a favor de absurdos, como a eugenia e a ideia de mestiçagem como um traço negativo do povo brasileiro, chegando ao extremo de ver a KKK sob uma ótica positiva! Não há como interpretar de outro modo aquelas funestas palavras, não há! Não obstante, como qualquer pessoa interessada em análise textual sabe, todo texto [mensagem] tem um emissário, um receptor e um contexto histórico em que se insere. As cartas que falam sobre a eugenia foram escritas entre 1928 e 1929, época em que a corrente era vista como uma teoria científica válida, já que ainda levaria anos até que ela fosse derrubada pela genética mendeliana [em 1915, com Thomas Hunt Morgan]. Além do quê, naquela época, não passava disso, uma teoria pouco conhecida; ainda não havia instituições governamentais que funcionassem sob sua égide. Os destinatários das cartas eram Arthur Neiva e Renato Kehl, dois cientistas que defendiam a eugenia e queriam encontrar evidências científicas que a sustentassem, defendiam-na, mas nunca citaram Lobato.
Monteiro Lobato sempre foi um homem de campanhas e bandeiras. O que ele achava, as coisas em que ele acreditava, as ideias que defendia, ele não o fazia só entre as paredes de seu escritório: muito pelo contrário, verdadeiras campanhas de marketing eram feitas para divulgar os seus pontos de vista. Monteiro Lobato, naquela época, já era um homem transmedia. Tinha um grande poder de comunicação e não hesitava em usá-lo para ser ouvido por quem quer que fosse, crianças ou adultos! Foi assim com a campanha do petróleo, por exemplo: escreveu livro para as crianças [“Poço do Visconde”], para os adultos [“O escândalo do petróleo”], publicou nos mais diversos jornais e, mesmo quando foi preso por Vargas, escreveu, do cárcere, cartas abertas sobre o tema; se houvesse internet na época, tenho certeza de que a teria utilizado largamente. A pergunta que se coloca, então, é a seguinte: por que, sendo quem era e tendo o poder que efetivamente tinha, Lobato não escreveu um “Emília no País da Eugenia”? Por que não lutou em praça pública pela eugenia sendo que nunca hesitou em fazê-lo pelo voto secreto, pelo ferro, pelo petróleo, pelo imposto único, pela educação? Por que não colocou essas cartas em nenhum volume da sua correspondência nem em nenhum livro de artigos, opiniões ou entrevistas? Por que não defendeu essa tese em nenhum de seus diversos volumes de jornalismo e crítica, já que nunca teve nenhum receio de chocar ninguém? Enfim, por que, se tinha essas ideias racistas [e infelizmente as teve, é inegável pela leitura dos trechos], ele não lutou por elas como lutava por todo o resto?
Quero crer que, se não deixou de ter os seus preconceitos pessoais bastante reprováveis [como os que tinha sobre os habitantes de outros estados, do Rio à Bahia, como atesta a revista], desistiu de apoiar o preconceito de raça com base científica por que viu, de algum modo, que ele não se sustentava. Quero crer que, antes de morrer em 1948, tendo já visto o horror que ideias como a eugenia causaram na 2ª. Guerra, Lobato tenha se arrependido do que escreveu nessas cartas, relegando-as ao esquecimento, nunca as tendo levado à luz da publicação. Lobato, assim como o seu Visconde, era um positivista, acreditava na ciência acima de tudo. Se ele restringiu sua defesa da eugenia a poucas cartas nunca divulgadas, quer dizer que, se não abandonou a ideia, não dava muita importância a ela, pois sempre foi, inegavelmente, um homem que lutou e se sacrificou por seus ideais! Parte fundamental do processo científico é o abandono de hipóteses, e Lobato nunca teve vergonha de admitir que estava errado e mudar de opinião publicamente. Isso aconteceu no caso do Jeca Tatu. Como fazendeiro, em 1914, quando cunhou pela primeira vez o termo, via o caipira como alguém que vive “a vegetar, de cócoras, incapaz de evolução e impenetrável ao progresso”. Anos depois, na época da sua campanha sanitarista na década de 40, mudou de ideia e se retratou publicamente, denunciando a situação do caboclo brasileiro, abandonado pelos poderes públicos às doenças, ao atraso e à indigência. "Jeca Tatu não é assim, ele está assim", disse na ocasião, renegando completamente o seu escrito anterior. Criou, ainda, o personagem Jeca Tatuzinho, que ensinava noções de higiene e saneamento às crianças, e escreveu “Zé Brasil”, livro em que defendia, inclusive, a reforma agrária, sendo aprendido pelo governo Dutra.
Não estou defendendo as ideias preconceituosas contidas na matéria da “Bravo”, nem absolvendo o homem Monteiro Lobato por tê-las apoiado naquelas malfadadas cartas. Essa sempre será uma mancha irremovível que sempre causará celeuma e vergonha aos leitores de Lobato. O que ressalto aqui é que o homem público, o escritor, o empresário, o editor Monteiro Lobato nunca fez disso uma bandeira, nunca fez campanha disso. Se tinha os seu preconceitos, guardou-os para si, para os familiares e amigos mais próximos. Se Flaubert é Madame Bovary, Lobato era Emília, com todos os seus defeitos e atos reprováveis. Lobato usava a boneca como porta-voz, mas ela se escrevia só, segundo ele, se rebelava contra o narrador. Ela revelava traços da personalidade de Lobato que, talvez, ele não quisesse que viessem à tona, dos quais ele até se envergonhasse. Caso contrário, só haveria Emília, mas não Visconde, que é a sua consciência. Visconde criticava tudo o que via de negativo em Emília, inclusive o modo ríspido e preconceituoso com que ela tratava sua mãe, Tia Nastácia. Muitos homens notáveis, como Richard Wagner e José de Alencar [que apoiava a escravatura], tinham visões que hoje são consideradas, pela maioria pelo menos, como preconceituosas. Não se pode negar isso. Todavia, não se pode também negar que as óperas do primeiro e os romances do segundo são obras primas que constituem, até hoje, o patrimônio cultural da humanidade. As frases de Lobato reproduzidas na revista devem, sim, ser repudiadas, mas tenho medo de que passem a queimar sua obra e a crucificar o escritor. O papel de Lobato como formador de leitores e como homem público do Brasil não pode ser esquecido; sua monumental obra não pode ser obscurecida por esses infelizes comentários, pois ela á muito mais importante para o nosso país e para o próprio Lobato, que empregou muito mais esforço em produzi-la e divulgá-la durante toda a sua vida do que em dar vazão a essas tendências racistas.
Re: Clássicos que você não gostou
Lorenzo Becco escreveu:Cássia escreveu:O que você disse?
Aqui:
- Spoiler:
Monteiro Lobato: Emília ou Eugenia?
Estou completamente desolado esta manhã. Recebi hoje de manhã a revista “Bravo” e fiquei chocado com a capa, que traz, em letras garrafais sobre um fundo rosa shocking (!!!), uma frase tirada de uma carta inédita de Monteiro Lobato em que ele elogia a Ku Klux Klan. No miolo da revista, há trechos estarrecedores de outras cartas inéditas em que ele simpatiza com o conceito absurdo [considerado científico na época] da eugenia, o estudo dos agentes sob o controle social que podem melhorar ou empobrecer as qualidades raciais das futuras gerações seja física ou mentalmente, que anos depois seria a base do arianismo nazista.
Para se ter uma ideia de como isso me impactou, vocês devem saber o quanto Monteiro Lobato significa para mim. Ele é mais do que um escritor de que gosto, é o homem que me ensinou a ler, que me mostrou todo o encanto que podemos experimentar com a leitura e com o conhecimento, que me levou à Grécia Clássica e à Terra do Nunca e à Espanha de Quixote, que me fez um morador do Sítio junto com milhões de outras crianças que eu nunca conheci, por distâncias no espaço e no tempo. Mas a minha admiração por ele não ficou só no campo da literatura infantil. Conforme ia crescendo, fui lendo sua obra adulta [com especial interesse por sua correspondência e contos] e admirava suas ideias e, principalmente, suas lutas: pela emancipação editorial no Brasil [fundou a 1ª. editora do país], pela escavação de petróleo [cavou o 1º. poço do país], pela educação, pela liberdade de imprensa, pela transparência e lisura na política entre tantas outras.
Sempre li e reli a obra de Lobato, o tenho como um dos formadores do meu caráter e personalidade, e nunca fui racista [pelo contrário] nem tinha me passado pela cabeça que ele pudesse ser taxado de racista até que, no primeiro semestre do meu curso de Letras, a professora de Produção Textual disse isso. A minha primeira reação foi: “Como é? Não entendi. Como assim racista?”. Sempre considerei as implicâncias da Emília, chamando Tia Nastácia de beiçuda, somente como isso, um traço menos positivo da personalidade egocêntrica dela. Ela xingava todo mundo, pegava no pé de todo mundo, até a Dona Benta ela chamava de velha coroca, por que seria diferente com a Tia Nastácia? Nesse caso, a meu ver, ainda há um agravante familiar: Emília xinga e despreza tanto a Tia Nastácia por que sempre quis ser da nobreza, ser marquesa, e renegava suas origens humildes. Sim, por que ela foi feita por Tia Nastácia com um paninho vagabundo e umas flores de Macela, Tia Nastácia é sua mãe renegada! Esse era só mais um dos traços de personalidade que faz de Emília um personagem tão tridimensional e original. Se os garotos não gostassem da velha Nastácia a tinham deixado na Lua [“Viagem ao Céu”] ou no labirinto do Minotauro [“O Minotauro”] sem se preocupar em resgatá-la. Além do quê, Lobato foi o primeiro a colocar uma negra como protagonista de um livro infantil, “Histórias de Tia Nastácia”, compilando histórias da cultura e folclore negros, denunciou os maus tratos contra os negros em contos como “Negrinha” e “Os Negros” [ambos do volume “Negrinha”], foi o único editor brasileiro a editar [e pagar por isso] Lima Barreto, cuja obra e vida foi devotada à sua raça! Sempre achei que essas acusações eram um excesso do politicamente correto de pessoas que desconheciam a obra e a vida do autor e citavam-no completamente fora do contexto histórico e social.
No entanto, os trechos das cartas publicados pela “Bravo”, infelizmente, não deixam dúvidas: Monteiro Lobato, em um certo período da sua vida, foi a favor de absurdos, como a eugenia e a ideia de mestiçagem como um traço negativo do povo brasileiro, chegando ao extremo de ver a KKK sob uma ótica positiva! Não há como interpretar de outro modo aquelas funestas palavras, não há! Não obstante, como qualquer pessoa interessada em análise textual sabe, todo texto [mensagem] tem um emissário, um receptor e um contexto histórico em que se insere. As cartas que falam sobre a eugenia foram escritas entre 1928 e 1929, época em que a corrente era vista como uma teoria científica válida, já que ainda levaria anos até que ela fosse derrubada pela genética mendeliana [em 1915, com Thomas Hunt Morgan]. Além do quê, naquela época, não passava disso, uma teoria pouco conhecida; ainda não havia instituições governamentais que funcionassem sob sua égide. Os destinatários das cartas eram Arthur Neiva e Renato Kehl, dois cientistas que defendiam a eugenia e queriam encontrar evidências científicas que a sustentassem, defendiam-na, mas nunca citaram Lobato.
Monteiro Lobato sempre foi um homem de campanhas e bandeiras. O que ele achava, as coisas em que ele acreditava, as ideias que defendia, ele não o fazia só entre as paredes de seu escritório: muito pelo contrário, verdadeiras campanhas de marketing eram feitas para divulgar os seus pontos de vista. Monteiro Lobato, naquela época, já era um homem transmedia. Tinha um grande poder de comunicação e não hesitava em usá-lo para ser ouvido por quem quer que fosse, crianças ou adultos! Foi assim com a campanha do petróleo, por exemplo: escreveu livro para as crianças [“Poço do Visconde”], para os adultos [“O escândalo do petróleo”], publicou nos mais diversos jornais e, mesmo quando foi preso por Vargas, escreveu, do cárcere, cartas abertas sobre o tema; se houvesse internet na época, tenho certeza de que a teria utilizado largamente. A pergunta que se coloca, então, é a seguinte: por que, sendo quem era e tendo o poder que efetivamente tinha, Lobato não escreveu um “Emília no País da Eugenia”? Por que não lutou em praça pública pela eugenia sendo que nunca hesitou em fazê-lo pelo voto secreto, pelo ferro, pelo petróleo, pelo imposto único, pela educação? Por que não colocou essas cartas em nenhum volume da sua correspondência nem em nenhum livro de artigos, opiniões ou entrevistas? Por que não defendeu essa tese em nenhum de seus diversos volumes de jornalismo e crítica, já que nunca teve nenhum receio de chocar ninguém? Enfim, por que, se tinha essas ideias racistas [e infelizmente as teve, é inegável pela leitura dos trechos], ele não lutou por elas como lutava por todo o resto?
Quero crer que, se não deixou de ter os seus preconceitos pessoais bastante reprováveis [como os que tinha sobre os habitantes de outros estados, do Rio à Bahia, como atesta a revista], desistiu de apoiar o preconceito de raça com base científica por que viu, de algum modo, que ele não se sustentava. Quero crer que, antes de morrer em 1948, tendo já visto o horror que ideias como a eugenia causaram na 2ª. Guerra, Lobato tenha se arrependido do que escreveu nessas cartas, relegando-as ao esquecimento, nunca as tendo levado à luz da publicação. Lobato, assim como o seu Visconde, era um positivista, acreditava na ciência acima de tudo. Se ele restringiu sua defesa da eugenia a poucas cartas nunca divulgadas, quer dizer que, se não abandonou a ideia, não dava muita importância a ela, pois sempre foi, inegavelmente, um homem que lutou e se sacrificou por seus ideais! Parte fundamental do processo científico é o abandono de hipóteses, e Lobato nunca teve vergonha de admitir que estava errado e mudar de opinião publicamente. Isso aconteceu no caso do Jeca Tatu. Como fazendeiro, em 1914, quando cunhou pela primeira vez o termo, via o caipira como alguém que vive “a vegetar, de cócoras, incapaz de evolução e impenetrável ao progresso”. Anos depois, na época da sua campanha sanitarista na década de 40, mudou de ideia e se retratou publicamente, denunciando a situação do caboclo brasileiro, abandonado pelos poderes públicos às doenças, ao atraso e à indigência. "Jeca Tatu não é assim, ele está assim", disse na ocasião, renegando completamente o seu escrito anterior. Criou, ainda, o personagem Jeca Tatuzinho, que ensinava noções de higiene e saneamento às crianças, e escreveu “Zé Brasil”, livro em que defendia, inclusive, a reforma agrária, sendo aprendido pelo governo Dutra.
Não estou defendendo as ideias preconceituosas contidas na matéria da “Bravo”, nem absolvendo o homem Monteiro Lobato por tê-las apoiado naquelas malfadadas cartas. Essa sempre será uma mancha irremovível que sempre causará celeuma e vergonha aos leitores de Lobato. O que ressalto aqui é que o homem público, o escritor, o empresário, o editor Monteiro Lobato nunca fez disso uma bandeira, nunca fez campanha disso. Se tinha os seu preconceitos, guardou-os para si, para os familiares e amigos mais próximos. Se Flaubert é Madame Bovary, Lobato era Emília, com todos os seus defeitos e atos reprováveis. Lobato usava a boneca como porta-voz, mas ela se escrevia só, segundo ele, se rebelava contra o narrador. Ela revelava traços da personalidade de Lobato que, talvez, ele não quisesse que viessem à tona, dos quais ele até se envergonhasse. Caso contrário, só haveria Emília, mas não Visconde, que é a sua consciência. Visconde criticava tudo o que via de negativo em Emília, inclusive o modo ríspido e preconceituoso com que ela tratava sua mãe, Tia Nastácia. Muitos homens notáveis, como Richard Wagner e José de Alencar [que apoiava a escravatura], tinham visões que hoje são consideradas, pela maioria pelo menos, como preconceituosas. Não se pode negar isso. Todavia, não se pode também negar que as óperas do primeiro e os romances do segundo são obras primas que constituem, até hoje, o patrimônio cultural da humanidade. As frases de Lobato reproduzidas na revista devem, sim, ser repudiadas, mas tenho medo de que passem a queimar sua obra e a crucificar o escritor. O papel de Lobato como formador de leitores e como homem público do Brasil não pode ser esquecido; sua monumental obra não pode ser obscurecida por esses infelizes comentários, pois ela á muito mais importante para o nosso país e para o próprio Lobato, que empregou muito mais esforço em produzi-la e divulgá-la durante toda a sua vida do que em dar vazão a essas tendências racistas.
Já li isso em algum lugar. Não trabalhamos com repetecos.
Sobre o tópico:
Parada tensa esse livro. Rola meio que uma puta duma EXPECTATIVA por conta do OBA-OBA que rola há anos mas quando sujeito se depara com a parada da árvore genealógica e suas trocentas ramificações perde todo o entendimento e a graça. Não dá pra ler um livro que precisa da porra de um guia. Tenso.
Não é bem um autor clássico, mas se encaixa no quesito PUTA DECEPÇÃO.
Dois livros e praticamente a mesma merda. Meio que desisti do autor. Não curto muito essas literatura americana underground com seus personagens paranóides caricatos de si mesmo. E tá tão batido esse viés "crítica ao status quo" que me rendeu umas boas horas de TÉDIO.
Jabá- Guerra e Paz
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Re: Clássicos que você não gostou
MELDELS PALAHNIUK É O CARA! No sufoco é um dos melhores livros ever!
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Re: Clássicos que você não gostou
Jabá escreveu:Lorenzo Becco escreveu:Cássia escreveu:O que você disse?
Aqui:
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Monteiro Lobato: Emília ou Eugenia?
Estou completamente desolado esta manhã. Recebi hoje de manhã a revista “Bravo” e fiquei chocado com a capa, que traz, em letras garrafais sobre um fundo rosa shocking (!!!), uma frase tirada de uma carta inédita de Monteiro Lobato em que ele elogia a Ku Klux Klan. No miolo da revista, há trechos estarrecedores de outras cartas inéditas em que ele simpatiza com o conceito absurdo [considerado científico na época] da eugenia, o estudo dos agentes sob o controle social que podem melhorar ou empobrecer as qualidades raciais das futuras gerações seja física ou mentalmente, que anos depois seria a base do arianismo nazista.
Para se ter uma ideia de como isso me impactou, vocês devem saber o quanto Monteiro Lobato significa para mim. Ele é mais do que um escritor de que gosto, é o homem que me ensinou a ler, que me mostrou todo o encanto que podemos experimentar com a leitura e com o conhecimento, que me levou à Grécia Clássica e à Terra do Nunca e à Espanha de Quixote, que me fez um morador do Sítio junto com milhões de outras crianças que eu nunca conheci, por distâncias no espaço e no tempo. Mas a minha admiração por ele não ficou só no campo da literatura infantil. Conforme ia crescendo, fui lendo sua obra adulta [com especial interesse por sua correspondência e contos] e admirava suas ideias e, principalmente, suas lutas: pela emancipação editorial no Brasil [fundou a 1ª. editora do país], pela escavação de petróleo [cavou o 1º. poço do país], pela educação, pela liberdade de imprensa, pela transparência e lisura na política entre tantas outras.
Sempre li e reli a obra de Lobato, o tenho como um dos formadores do meu caráter e personalidade, e nunca fui racista [pelo contrário] nem tinha me passado pela cabeça que ele pudesse ser taxado de racista até que, no primeiro semestre do meu curso de Letras, a professora de Produção Textual disse isso. A minha primeira reação foi: “Como é? Não entendi. Como assim racista?”. Sempre considerei as implicâncias da Emília, chamando Tia Nastácia de beiçuda, somente como isso, um traço menos positivo da personalidade egocêntrica dela. Ela xingava todo mundo, pegava no pé de todo mundo, até a Dona Benta ela chamava de velha coroca, por que seria diferente com a Tia Nastácia? Nesse caso, a meu ver, ainda há um agravante familiar: Emília xinga e despreza tanto a Tia Nastácia por que sempre quis ser da nobreza, ser marquesa, e renegava suas origens humildes. Sim, por que ela foi feita por Tia Nastácia com um paninho vagabundo e umas flores de Macela, Tia Nastácia é sua mãe renegada! Esse era só mais um dos traços de personalidade que faz de Emília um personagem tão tridimensional e original. Se os garotos não gostassem da velha Nastácia a tinham deixado na Lua [“Viagem ao Céu”] ou no labirinto do Minotauro [“O Minotauro”] sem se preocupar em resgatá-la. Além do quê, Lobato foi o primeiro a colocar uma negra como protagonista de um livro infantil, “Histórias de Tia Nastácia”, compilando histórias da cultura e folclore negros, denunciou os maus tratos contra os negros em contos como “Negrinha” e “Os Negros” [ambos do volume “Negrinha”], foi o único editor brasileiro a editar [e pagar por isso] Lima Barreto, cuja obra e vida foi devotada à sua raça! Sempre achei que essas acusações eram um excesso do politicamente correto de pessoas que desconheciam a obra e a vida do autor e citavam-no completamente fora do contexto histórico e social.
No entanto, os trechos das cartas publicados pela “Bravo”, infelizmente, não deixam dúvidas: Monteiro Lobato, em um certo período da sua vida, foi a favor de absurdos, como a eugenia e a ideia de mestiçagem como um traço negativo do povo brasileiro, chegando ao extremo de ver a KKK sob uma ótica positiva! Não há como interpretar de outro modo aquelas funestas palavras, não há! Não obstante, como qualquer pessoa interessada em análise textual sabe, todo texto [mensagem] tem um emissário, um receptor e um contexto histórico em que se insere. As cartas que falam sobre a eugenia foram escritas entre 1928 e 1929, época em que a corrente era vista como uma teoria científica válida, já que ainda levaria anos até que ela fosse derrubada pela genética mendeliana [em 1915, com Thomas Hunt Morgan]. Além do quê, naquela época, não passava disso, uma teoria pouco conhecida; ainda não havia instituições governamentais que funcionassem sob sua égide. Os destinatários das cartas eram Arthur Neiva e Renato Kehl, dois cientistas que defendiam a eugenia e queriam encontrar evidências científicas que a sustentassem, defendiam-na, mas nunca citaram Lobato.
Monteiro Lobato sempre foi um homem de campanhas e bandeiras. O que ele achava, as coisas em que ele acreditava, as ideias que defendia, ele não o fazia só entre as paredes de seu escritório: muito pelo contrário, verdadeiras campanhas de marketing eram feitas para divulgar os seus pontos de vista. Monteiro Lobato, naquela época, já era um homem transmedia. Tinha um grande poder de comunicação e não hesitava em usá-lo para ser ouvido por quem quer que fosse, crianças ou adultos! Foi assim com a campanha do petróleo, por exemplo: escreveu livro para as crianças [“Poço do Visconde”], para os adultos [“O escândalo do petróleo”], publicou nos mais diversos jornais e, mesmo quando foi preso por Vargas, escreveu, do cárcere, cartas abertas sobre o tema; se houvesse internet na época, tenho certeza de que a teria utilizado largamente. A pergunta que se coloca, então, é a seguinte: por que, sendo quem era e tendo o poder que efetivamente tinha, Lobato não escreveu um “Emília no País da Eugenia”? Por que não lutou em praça pública pela eugenia sendo que nunca hesitou em fazê-lo pelo voto secreto, pelo ferro, pelo petróleo, pelo imposto único, pela educação? Por que não colocou essas cartas em nenhum volume da sua correspondência nem em nenhum livro de artigos, opiniões ou entrevistas? Por que não defendeu essa tese em nenhum de seus diversos volumes de jornalismo e crítica, já que nunca teve nenhum receio de chocar ninguém? Enfim, por que, se tinha essas ideias racistas [e infelizmente as teve, é inegável pela leitura dos trechos], ele não lutou por elas como lutava por todo o resto?
Quero crer que, se não deixou de ter os seus preconceitos pessoais bastante reprováveis [como os que tinha sobre os habitantes de outros estados, do Rio à Bahia, como atesta a revista], desistiu de apoiar o preconceito de raça com base científica por que viu, de algum modo, que ele não se sustentava. Quero crer que, antes de morrer em 1948, tendo já visto o horror que ideias como a eugenia causaram na 2ª. Guerra, Lobato tenha se arrependido do que escreveu nessas cartas, relegando-as ao esquecimento, nunca as tendo levado à luz da publicação. Lobato, assim como o seu Visconde, era um positivista, acreditava na ciência acima de tudo. Se ele restringiu sua defesa da eugenia a poucas cartas nunca divulgadas, quer dizer que, se não abandonou a ideia, não dava muita importância a ela, pois sempre foi, inegavelmente, um homem que lutou e se sacrificou por seus ideais! Parte fundamental do processo científico é o abandono de hipóteses, e Lobato nunca teve vergonha de admitir que estava errado e mudar de opinião publicamente. Isso aconteceu no caso do Jeca Tatu. Como fazendeiro, em 1914, quando cunhou pela primeira vez o termo, via o caipira como alguém que vive “a vegetar, de cócoras, incapaz de evolução e impenetrável ao progresso”. Anos depois, na época da sua campanha sanitarista na década de 40, mudou de ideia e se retratou publicamente, denunciando a situação do caboclo brasileiro, abandonado pelos poderes públicos às doenças, ao atraso e à indigência. "Jeca Tatu não é assim, ele está assim", disse na ocasião, renegando completamente o seu escrito anterior. Criou, ainda, o personagem Jeca Tatuzinho, que ensinava noções de higiene e saneamento às crianças, e escreveu “Zé Brasil”, livro em que defendia, inclusive, a reforma agrária, sendo aprendido pelo governo Dutra.
Não estou defendendo as ideias preconceituosas contidas na matéria da “Bravo”, nem absolvendo o homem Monteiro Lobato por tê-las apoiado naquelas malfadadas cartas. Essa sempre será uma mancha irremovível que sempre causará celeuma e vergonha aos leitores de Lobato. O que ressalto aqui é que o homem público, o escritor, o empresário, o editor Monteiro Lobato nunca fez disso uma bandeira, nunca fez campanha disso. Se tinha os seu preconceitos, guardou-os para si, para os familiares e amigos mais próximos. Se Flaubert é Madame Bovary, Lobato era Emília, com todos os seus defeitos e atos reprováveis. Lobato usava a boneca como porta-voz, mas ela se escrevia só, segundo ele, se rebelava contra o narrador. Ela revelava traços da personalidade de Lobato que, talvez, ele não quisesse que viessem à tona, dos quais ele até se envergonhasse. Caso contrário, só haveria Emília, mas não Visconde, que é a sua consciência. Visconde criticava tudo o que via de negativo em Emília, inclusive o modo ríspido e preconceituoso com que ela tratava sua mãe, Tia Nastácia. Muitos homens notáveis, como Richard Wagner e José de Alencar [que apoiava a escravatura], tinham visões que hoje são consideradas, pela maioria pelo menos, como preconceituosas. Não se pode negar isso. Todavia, não se pode também negar que as óperas do primeiro e os romances do segundo são obras primas que constituem, até hoje, o patrimônio cultural da humanidade. As frases de Lobato reproduzidas na revista devem, sim, ser repudiadas, mas tenho medo de que passem a queimar sua obra e a crucificar o escritor. O papel de Lobato como formador de leitores e como homem público do Brasil não pode ser esquecido; sua monumental obra não pode ser obscurecida por esses infelizes comentários, pois ela á muito mais importante para o nosso país e para o próprio Lobato, que empregou muito mais esforço em produzi-la e divulgá-la durante toda a sua vida do que em dar vazão a essas tendências racistas.
Já li isso em algum lugar. Não trabalhamos com repetecos.
Sobre o tópico:
Parada tensa esse livro. Rola meio que uma puta duma EXPECTATIVA por conta do OBA-OBA que rola há anos mas quando sujeito se depara com a parada da árvore genealógica e suas trocentas ramificações perde todo o entendimento e a graça. Não dá pra ler um livro que precisa da porra de um guia. Tenso.
Não é bem um autor clássico, mas se encaixa no quesito PUTA DECEPÇÃO.
Dois livros e praticamente a mesma merda. Meio que desisti do autor. Não curto muito essas literatura americana underground com seus personagens paranóides caricatos de si mesmo. E tá tão batido esse viés "crítica ao status quo" que me rendeu umas boas horas de TÉDIO.
O Gabriel Garcia eu sempre penso em começar pelo "Amor nos tempos de cólera" que eu tenho pra mim que deve ser um livro daqueles inesquecíveis. Ia até postar no tópico das próximas leituras. O "Cem anos de solidão" ficaria para depois.
Mat- Guerra e Paz
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Re: Clássicos que você não gostou
Mat escreveu:O Gabriel Garcia eu sempre penso em começar pelo "Amor nos tempos de cólera" que eu tenho pra mim que deve ser um livro daqueles inesquecíveis. Ia até postar no tópico das próximas leituras. O "Cem anos de solidão" ficaria para depois.
Foi o caminho que segui - e não me arrependo.
Karenina- Crime e Castigo
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Re: Clássicos que você não gostou
Amigo meu curtiu muito Memórias de Minhas Putas Tristes.
Cássia- A Senhoria
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Re: Clássicos que você não gostou
Achei a Consciência de Zeno, do Svevo, maçante
Não consegui ler todo ainda, fiquei lendo outros livros pra ver se tenho coragem de retomar a leitura... hahahaha
Não consegui ler todo ainda, fiquei lendo outros livros pra ver se tenho coragem de retomar a leitura... hahahaha
aline veras- Noites Brancas
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Re: Clássicos que você não gostou
Gosto é gosto...mas...não concordo com a crítica a "A Morte de Ivan Ilitch"..é umas das novelas mais perfeitas.
O terror metafísico se aproximando do final do livro é impressionante, e não vi pregação NENHUMA do Tolstoi.
Pregação ele fez em Padre Sergio, e mesmo assim não acho que estragou a leitura. Tolstoi é um escritor fantástico, narrador clássico e perfeito, consegue envolver e fazer uma leitura deliciosa, até quando fala sobre mujiques e do que ele acredita ser arte.
Muita gente confunde o Tolstoi escritor do Tolstoi pregador. Ele soube diferenciar, na medida do possível, muito bem os dois papéis.
Quanto ao tópico;
Como eu disse, gosto é gosto, e para mim os mais superestimados são:
Shakespeare = Desculpem-me os fãs, mas não desce, sei que sou minoria, mas pelo menos o velho Tolstoi (de novo ele) está do meu lado.
William Faulkner = Li dois romances dele (Enquanto Agonizo e O Som e a Fúria). Ele é tão pretensioso que chega a dar raiva. As idéias do livro são ótimas, mas chatíssimos.
Poucos momentos eu falava: "Porra, que lindo!", e era nos momentos em que ele deixava a pompa de lado. Desculpa, Faulkner, mas você não é Joyce.
Albert Camus = Ok, O Estrangeiro é um livro legalzinho, mas A Peste é um livro muito chato, e os dois possuem mais fama do que merecem.
Os que lembrei agora foram esses...também não gosto de Borges...mas nem vou falar muito mal porque nem consegui ler Ficções. Tentei, mas é uma leitura que não me agradou mesmo. Daqui alguns anos eu tento de novo.
Hoje, para mim, o melhor escritor argentino é Ernesto Sabato.
O terror metafísico se aproximando do final do livro é impressionante, e não vi pregação NENHUMA do Tolstoi.
Pregação ele fez em Padre Sergio, e mesmo assim não acho que estragou a leitura. Tolstoi é um escritor fantástico, narrador clássico e perfeito, consegue envolver e fazer uma leitura deliciosa, até quando fala sobre mujiques e do que ele acredita ser arte.
Muita gente confunde o Tolstoi escritor do Tolstoi pregador. Ele soube diferenciar, na medida do possível, muito bem os dois papéis.
Quanto ao tópico;
Como eu disse, gosto é gosto, e para mim os mais superestimados são:
Shakespeare = Desculpem-me os fãs, mas não desce, sei que sou minoria, mas pelo menos o velho Tolstoi (de novo ele) está do meu lado.
William Faulkner = Li dois romances dele (Enquanto Agonizo e O Som e a Fúria). Ele é tão pretensioso que chega a dar raiva. As idéias do livro são ótimas, mas chatíssimos.
Poucos momentos eu falava: "Porra, que lindo!", e era nos momentos em que ele deixava a pompa de lado. Desculpa, Faulkner, mas você não é Joyce.
Albert Camus = Ok, O Estrangeiro é um livro legalzinho, mas A Peste é um livro muito chato, e os dois possuem mais fama do que merecem.
Os que lembrei agora foram esses...também não gosto de Borges...mas nem vou falar muito mal porque nem consegui ler Ficções. Tentei, mas é uma leitura que não me agradou mesmo. Daqui alguns anos eu tento de novo.
Hoje, para mim, o melhor escritor argentino é Ernesto Sabato.
Última edição por Tommy em 22nd abril 2012, 10:51 pm, editado 1 vez(es)
Tommy- Noites Brancas
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Re: Clássicos que você não gostou
Caçador de Falácias escreveu:
O terror metafísico se aproximando do final do livro é impressionante, e não vi pregação NENHUMA do Tolstoi.
Como bem disse, você não viu. É uma questão de interpretação mesmo.
Muita gente confunde o Tolstoi escritor do Tolstoi pregador. Ele soube diferenciar, na medida do possível, muito bem os dois papéis.
Olha, não sei se no teu "muita gente" eu estou inclusa. O que posso dizer é que quando li A Morte de Ivan Ilitch, eu pouco sabia sobre a biografia de Tolstói pra fazer tal avaliação. Simplesmente os dois ou três últimos parágrafos do texto não resistem a uma análise de discurso das mais rasas nesse sentido. E por aí você pode depreender que quando leio um autor, não tô pensando muito na intenção dele ao escrever o texto. Acho uma pretensão muito grande determinar a intenção de um escritor ao escrever uma obra.
Cássia- A Senhoria
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Re: Clássicos que você não gostou
Suzy Bannion escreveu:
Simplesmente os dois ou três últimos parágrafos do texto não resistem a uma análise de discurso das mais rasas nesse sentido.
Você poderia demonstrar onde está essa pregação?
Porque... SPOILER
- Spoiler:
Se o problema foi o delírio final de Ivan Ilitch sobre não haver morte...acho que está claro que é um delírio de um moribundo. E se basta algum personagem crer, pregar, ou qualquer coisa que remete à religião, muita obra irá virar pregação.
Mas..como você disse que eu disse e também concordou, cada um interpreta de uma forma. Disse isso no meu primeiro post, mas você quis reforçar que SUA interpretação era que havia pregação.
Acho que o seu post deveria vir com argumentação, e não só reafirmando, porque deu na mesma.
Mas tudo bem.
Tommy- Noites Brancas
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Re: Clássicos que você não gostou
Caçador de Falácias escreveu:Suzy Bannion escreveu:
Simplesmente os dois ou três últimos parágrafos do texto não resistem a uma análise de discurso das mais rasas nesse sentido.
Você poderia demonstrar onde está essa pregação?
Não. A edição que li era emprestada. Esta aqui:
Porque... SPOILER
- Spoiler:
Se o problema foi o delírio final de Ivan Ilitch sobre não haver morte...acho que está claro que é um delírio de um moribundo. E se basta algum personagem crer, pregar, ou qualquer coisa que remete à religião, muita obra irá virar pregação.
Isso é discurso. Pela tua lógica, fica parecendo que um personagem de uma obra existe exteriormente ao autor. Ora, o personagem é criado por ele. Outra coisa, não basta um personagem pregar em uma obra pra que a obra vire pregação. Eu não disse isso e nem é isso. Há vários pontos que devem ser observados como, por exemplo, se o discurso é direto, indireto ou indireto livre. Se não muito me engano, em A morte de Ivan Ilitch, é o último caso. Neste caso, as fronteiras entre narrador e personagem são muito tênues. Há que se observar também que tipo de narrador e como ele trata seus personagens, etc. No desfecho dessa obra de Tolstói o personagem tem uma espécie de epifania.
Mas..como você disse que eu disse e também concordou, cada um interpreta de uma forma. Disse isso no meu primeiro post, mas você quis reforçar que SUA interpretação era que havia pregação.
Acho que o seu post deveria vir com argumentação, e não só reafirmando, porque deu na mesma.
Mas tudo bem.
Não, não quis que minha interpretação prevalecesse sobre a sua. O que quis dizer é que a minha intepretação não é tresloucada, absurda, vinda de outro mundo. Qualquer análise de discurso feita da obra encontrará a interpretação que tive. Porque ela tem fundamento. E não estaria dizendo isso aqui pra você se já não tivesse discutido disso com algumas pessoas que também perceberam isso.
Em todo caso, falo especificamente da tradução que li. Muita coisa se perde em traduções.
Cássia- A Senhoria
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Data de inscrição : 13/10/2011
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Re: Clássicos que você não gostou
Suzy,
Mas em momento nenhum eu disse que sua interpretação era absurda.
Disse que EU não vi em momento nenhum pregação.
Acho que ele pregou em Sonata a Kreutzer e Padre Sergio, mas em A morte de Ivan Ilitch não achei.
SPOILER, final do livro - edição da Editora 34
Agora, analisando:
Acho esta obra MUITO grandiosa para resumir o livro, ou pelo menos o final, como pregação.
Outro SPOILER, agora sobre Crime e Castigo.
E, para finalizar, não se ofenda, por favor.
Acho que só dizer qual livro não gostou não facilita muito...mas agora você explicou, apesar de eu continuar sem concordar.
p.s.: Editei o meu primeiro post para trocar Soares por Borges (não sei como consegui trocar os nomes)
Mas em momento nenhum eu disse que sua interpretação era absurda.
Disse que EU não vi em momento nenhum pregação.
Acho que ele pregou em Sonata a Kreutzer e Padre Sergio, mas em A morte de Ivan Ilitch não achei.
SPOILER, final do livro - edição da Editora 34
- Spoiler:
Prestou atenção.
“Sim, ei-la. Ora, e então? Que seja a dor.”
“E a morte? Onde está?”
Procurou o seu habitual medo da morte e não o encontrou. Onde ela está? Que morte? Não havia medo, porque também a morte não existia.
Em lugar da morte, havia luz.
- "Então é isso!" – Disse de repente em voz alta. – "Que alegria!"
Tudo isso lhe aconteceu num instante, e a significação desse instante não se alterou mais. Mas, para os presentes, a sua agonia ainda durou duas horas. Algo borbulhava-lhe no peito; o seu corpo extenuando estremecia. Depois, o borbulhar e o rouquejar tornaram-se cada vez mais espaçados. – Acabou! – Disse alguém por cima dele.
Ouviu essas palavras e repetiu-as em seu espírito.
“A morte acabou – disse a si mesmo – Não existe mais.”
Aspirou ar, deteve-se em meio do suspiro, inteiriçou-se e morreu.
Agora, analisando:
- Spoiler:
- Se o único problema é uma parte em que o narrador onisciente diz que não há morte, pode até ser intepretado como uma opinião empurrada do Tolstoi - mas para mim soou como um acompanhamento do delírio do Ivan Ilitch, explicando as sensações, nada demais
Acho esta obra MUITO grandiosa para resumir o livro, ou pelo menos o final, como pregação.
Outro SPOILER, agora sobre Crime e Castigo.
- Spoiler:
- a redenção de R. para MIM foi um pouco brochante, mas até ai, o livro não deixa de ser genial por conta disso
E, para finalizar, não se ofenda, por favor.
Acho que só dizer qual livro não gostou não facilita muito...mas agora você explicou, apesar de eu continuar sem concordar.
p.s.: Editei o meu primeiro post para trocar Soares por Borges (não sei como consegui trocar os nomes)
Tommy- Noites Brancas
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Data de inscrição : 17/04/2012
Re: Clássicos que você não gostou
Mais um pra lista: Henry Miller. Cretino demais.
tiago- Crime e Castigo
- Mensagens : 849
Data de inscrição : 17/07/2011
Re: Clássicos que você não gostou
A galera podia dizer porque não gosta de algo. :(
Tipo por que o carinha não gostou dos Três Mosqueteiros ou por que o outro não gostou de Shakespeare, e tal.
Bem, não tenha um clássico em especial que eu não tenha gostado, mas é engraçado quando tem algo "popular", "famoso", "obra-prima" que você não gosta... Eu pelo menos me sinto um estúpido, ignorante, etc... rsrsrs E o mais engraçado é que muita das vezes tem gente que também não gosta mas NINGUÉM tem coragem de falar mal, aí você se acha o único. xD
Tipo por que o carinha não gostou dos Três Mosqueteiros ou por que o outro não gostou de Shakespeare, e tal.
Bem, não tenha um clássico em especial que eu não tenha gostado, mas é engraçado quando tem algo "popular", "famoso", "obra-prima" que você não gosta... Eu pelo menos me sinto um estúpido, ignorante, etc... rsrsrs E o mais engraçado é que muita das vezes tem gente que também não gosta mas NINGUÉM tem coragem de falar mal, aí você se acha o único. xD
Sotonayu- Noites Brancas
- Mensagens : 22
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Re: Clássicos que você não gostou
Sotonayu escreveu:A galera podia dizer porque não gosta de algo. :(
Tipo por que o carinha não gostou dos Três Mosqueteiros ou por que o outro não gostou de Shakespeare, e tal.
Bem, não tenha um clássico em especial que eu não tenha gostado, mas é engraçado quando tem algo "popular", "famoso", "obra-prima" que você não gosta... Eu pelo menos me sinto um estúpido, ignorante, etc... rsrsrs E o mais engraçado é que muita das vezes tem gente que também não gosta mas NINGUÉM tem coragem de falar mal, aí você se acha o único. xD
Uma coisa é não gostar; outra bem diferente é fechar os olhos para o valor da obra. Se ela é considerada clássica, uma obra-prima, algum valor ela tem. Problema que as pessoas confundem. Dizer que não gosta não é falar mal, é apenas expressar uma questão puramente pessoal. Conheço uma pessoa que detesta Machado de Assis e, mesmo assim, reconhece que ele foi um excelente escritor (na prosa).
Cássia- A Senhoria
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Re: Clássicos que você não gostou
Eu não sou muito chegado no Machado, mas respeito, apesar de um dia acreditar que a humanidade descobrir que Aluísio Azevedo sempre foi mais escritor indo e voltando do que ele.
Jabá- Guerra e Paz
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Re: Clássicos que você não gostou
Jabá escreveu:Eu não sou muito chegado no Machado, mas respeito, apesar de um dia acreditar que a humanidade descobrir que Aluísio Azevedo sempre foi mais escritor indo e voltando do que ele.
Nunca li Aluísio, mas por que a comparação justo com ele? Penso que são tão diferentes. Tipo, um é cômico e o outro parece ser tão mais "sério" no tom da escrita.
Particularmente, não curto o naturalismo. Tipo, li A Carne, do Ribeiro. Parece que, infelizmente, tal qual meu professor de literatura da escola martelava em nossos ouvidos pra gente decorar, todos as obras que se filiam a essa "escola" literária sofrem influência do determinismo aplicado à sociedade. Não dá pra levar à sério. Certo que era o que estava na moda na época, mas quando penso na discussão sobre loucura, ciência, modernidade e a própria sociedade brasileira que o Machadão traz num "textinho" como O Alienista e ainda com humor, de forma leve... hehe.
Cássia- A Senhoria
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Re: Clássicos que você não gostou
Jabá escreveu:Eu não sou muito chegado no Machado, mas respeito, apesar de um dia acreditar que a humanidade descobrir que Aluísio Azevedo sempre foi mais escritor indo e voltando do que ele.
Mas nem com muita boa vontade.
Agora, o Lima Barreto já é outra história.
Re: Clássicos que você não gostou
Lorenzo Becco escreveu:Agora, o Lima Barreto já é outra história.
Só li A Nova Califórnia dele. Me indica alguma coisa.
Cássia- A Senhoria
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Re: Clássicos que você não gostou
Cássia escreveu:Jabá escreveu:Eu não sou muito chegado no Machado, mas respeito, apesar de um dia acreditar que a humanidade descobrir que Aluísio Azevedo sempre foi mais escritor indo e voltando do que ele.
Nunca li Aluísio, mas por que a comparação justo com ele? Penso que são tão diferentes. Tipo, um é cômico e o outro parece ser tão mais "sério" no tom da escrita.
Particularmente, não curto o naturalismo. Tipo, li A Carne, do Ribeiro. Parece que, infelizmente, tal qual meu professor de literatura da escola martelava em nossos ouvidos pra gente decorar, todos as obras que se filiam a essa "escola" literária sofrem influência do determinismo aplicado à sociedade. Não dá pra levar à sério. Certo que era o que estava na moda na época, mas quando penso na discussão sobre loucura, ciência, modernidade e a própria sociedade brasileira que o Machadão traz num "textinho" como O Alienista e ainda com humor, de forma leve... hehe.
Ambos são expoentes do Realismo, por isso a comparação.
Sim, são bem diferentes e esse aspecto do humor é um fato que talvez você não conheça por parte do Aluísio, mas leia Casa de Pensão que você mudará de idéia.
Jabá- Guerra e Paz
- Mensagens : 3743
Data de inscrição : 06/09/2011
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Re: Clássicos que você não gostou
Jabá escreveu:Cássia escreveu:Jabá escreveu:Eu não sou muito chegado no Machado, mas respeito, apesar de um dia acreditar que a humanidade descobrir que Aluísio Azevedo sempre foi mais escritor indo e voltando do que ele.
Nunca li Aluísio, mas por que a comparação justo com ele? Penso que são tão diferentes. Tipo, um é cômico e o outro parece ser tão mais "sério" no tom da escrita.
Particularmente, não curto o naturalismo. Tipo, li A Carne, do Ribeiro. Parece que, infelizmente, tal qual meu professor de literatura da escola martelava em nossos ouvidos pra gente decorar, todos as obras que se filiam a essa "escola" literária sofrem influência do determinismo aplicado à sociedade. Não dá pra levar à sério. Certo que era o que estava na moda na época, mas quando penso na discussão sobre loucura, ciência, modernidade e a própria sociedade brasileira que o Machadão traz num "textinho" como O Alienista e ainda com humor, de forma leve... hehe.
Ambos são expoentes do Realismo, por isso a comparação.
Sim, são bem diferentes e esse aspecto do humor é um fato que talvez você não conheça por parte do Aluísio, mas leia Casa de Pensão que você mudará de idéia.
Associo o Aluísio mais ao Naturalismo que, embora tenha quem ache igual ou semelhante ao Realismo, particularmente eu acho muito diferente. Tua indicação é um reforço. Tá com um tempo já que eu tô pra ler Casa de Pensão. Obrigada.
Cássia- A Senhoria
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