A evolução do leitor

Após algumas leituras focadas esse ano principalmente na literatura russa percebi um fenômeno interessante e não sei se mais alguém compartilha dessa sensação:
Depois de ler certas obras tidas como "clássicas", as leituras seguintes parecem desinteressantes, sem feeling e a sensação que se tem é de querer repetir a experiência da leitura anterior. Como se quisesse repetir o "barato" da leitura.

Exemplo:
Li Crime e Castigo, Recordações da casa dos mortos e Irmãos Karamázov. Nada mais me parece interessar a não ser obras do autor que possam repetir as sensações que vivi lendo essas obras.
Li Tchekov e qualquer outro contista me parece desinteressante, abrindo exceção apenas para Rubem Fonseca que já leio há alguns anos.
Obras como Anna Karienina e Guerra e Paz do "rival" do grande Dostoiévski causariam a mesma sensação? Sendo que ainda não li, mas espero ler em breve...

Seria a evolução do leitor, amigos? Seria a ascenção a níveis mais elevados de leitura, uma abertura na percepção da vida em si? Isso acontece com vocês? Ou seria viagem? A pergunta que fica: Onde isso vai parar? Tem Volta?

Comentem amigos.

Acho que em muitos sentidos não há volta. Mas é complicado, pessoalíssimo, nem poderia estimá-lo...

Americanos como Kerouac e Bukowski são ruins mesmo. Mas gente como Faulkner merece meu respeito.

Kerouac não é forma, é conteúdo, não adianta. Fora que é muito mais o valor histórico do que o valor literário.

César escreveu:Kerouac não é forma, é conteúdo, não adianta. Fora que é muito mais o valor histórico do que o valor literário.

Concordo.
Ou talvez seja a gente que não entenda a revolta profunda do ser humano do Kerouac.
Mas acho que esse fórum está deixando o Jabá muito esnobe.

Já me tranquilizo em ver que o Becco compartilha das minhas sensações. Folgo em saber.

Já aprendi uma lição na leitura de Por que ler os clássicos do Calvino. Devemos ter duas estantes, uma para os clássicos que devem ser relidos e outra para a experimentação, sendo que os da segunda podem migrar para a primeira.

Não sabia que eu tava ficando esnobe. Esnobar para mim é motivo de orgulho.

O fato é que um sujeito esnobe e ocupado como eu tem que selecionar criteriosamente o material a ser lido. Obras menores não cabem mais até porque não rendem mais o barato. Então, é quase uma necessidade selecionar criteriosamente a leitura da semana ou do mês.

Jabá, tive os mesmos sentimentos e impressões que tu, após a leitura dos Irmãos Karamazov. E infelizmente, sinto que será assim daqui para a frente, sempre procurando obras desse nível. Eu sempre gostei muito de romances históricos, de histórias tipo Bernard Cornwell. Mas depois que comecei a ler os clássicos sinto-me cada vez mais afastado, do cornwell eu ainda gosto bastante, mas outros autores que antes gostava já me "enchem o saco" tio o G.R.R Martim. Sempre li como forma de entretedimento então não tinha preconceitos com obras nem autores, mas o tempo acaba passando e a gente acaba ficando mais seleto.

Não é o assunto em questão, porém serve como gancho para futuras discuções. Mas essa evolução do leitor é algo estranho de definir.
Tem pessoas que passam a vida toda lendo o mesmo tipo de literatura. Outras já começam com clássicos e livros tidos como "mais difíceis".Outras ainda vão escalando degraus e lendo obras que exigem cada vez mais "bagagem literária" e amadurecimento de vida.

Essa semana encontrei um perfil no Skoob de uma garota que leu quase mil livros porém olhando a estante dela não tinha praticamente nenhum clássico, nenhuma grande obra e nem livros contemporâneos cogitados a futuros clássicos. Ao que parece ela mantém um blog e muito dos livros lidos parecem ser brindes das editoras que mandam para resenhar. E pela quantidade de porcarias que ela resenha os brindes parecem ser um presente bem ingrato.
Bem dai lembrei deste tópico e da idéia de ter um "conhecimento cronológico" da literatura, tentar ler um pouquinho de cada autor de cada época e escola literária diferente desde os primórdios até os dias atuais.Então eu folheei o primeiro volume da "História da literatura Ocidental " do Carpeaux e vi no índice final os autores citados nesse primeiro volume. Por uns cálculos de padaria cheguei a soma de uns 360 autores dos quais eu conheço de nome 1/10 deles e não li nenhum. Isso tudo em um primeiro volume tratando da idade antiga onde de lá para cá a literatura cresceu de forma exponencialmente. Não tenho nem idéia do número de autores citado na obra completa mas com certeza é um número assombroso.
Tudo isso me deu uma grande fadiga e resolvi ir ler uma HQ...

No geral partilho da sensação dos amiches.

Mas ainda sinto que é bom conciliar os clássicos hardcore com clássicos mais leves e tirar proveito nos dois. Dá para ler Faulkner e Kerouac e sentir prazer nos dois, entendendo as limitações de cada um (principalmente do Kerouac, no caso).

As vezes sinto que focar somente nos clássicos ultra hardcore pode fazer com que um tire brilho do outro. Ou mesmo nem tenhamos tempo de digerir tudo. Mas esse ponto depende da experiência do leitor também...

Mil livros? Quando comecei a ler o post do Lavoura imaginei o quanto de merda poderei estar nesse meio. Dito e feito.

Mas Jabá, acho 1000 livros um número pequeno. Principalmente se começar a dispersar as leituras com assuntos variados. Tem tanto tema interessante em que dá para ler mais de dúzias de livros tranquilamente tipo história, filosofia, sociologia, antropologia, crítica literária , romances, teatro, poesia , biografias antologias e outras tantas coisas. Só pegar 10 livros de cada tema desses e já temos 100 livros.

Impressionante é esse número (1000) em um sujeito de vinte e poucos anos. Levando em conta a maturidade para conseguir digerir e acompanhar esse ritmo de leitura a pessoa deve ter começado a ler bastante por volta dos 15 anos e se tem vinte e poucos com esse número de leituras deve ter lido por volta de 200 livros por ano nos últimos 5 anos.
Algo impressionante, não?


Só para comparação o Borges, que sempre é modesto quanto trata-se de sua pessoa, disse ter lido cerca de 900 livros em toda a sua vida.
Disse ainda que algum visitante se impressionaria com o tanto de livros com páginas à cortar em sua biblioteca ( antigamente as páginas vinham juntas e era necessário cortar com uma regua ou algo assim). Disse que consultou muitos livros, mas realmente leu poucos.
É claro que deve ter lido coisa pra caramba, mas enfim. A palavra dele era essa.