Seu poeta (ou poetas) favorito(s)
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Re: Seu poeta (ou poetas) favorito(s)
Teriofania
(José Severiano de Resende)
Certo, novas terás deste homem pardo
De hirsuto pêlo e de melena ao vento:
Tem no jarrete o nervo do leopardo
Nos marnéis galopando de espavento.
É Leviatã e Beemote, e luta
Como os mamutes, como os megalossauros,
Na expansão de uma força resoluta
Comandando ciclopes e centauros.
Desde os confins das brumas hiperbóreas
O seu rastro traçou tortuosas sendas:
Dele contam-se horríficas histórias,
Narram-se dele tétricas legendas.
Quantas línguas possui e quantos dentes,
Quantos idiomas há no seu regougo?
Lança dos olhos chispas transcendentes
E da fauce vomita sangue e fogo.
Nas suas múltiplas metamorfoses
Assemelha-se aos ogros e aos onagros
E imita muita vez do vento as vozes
Pela noturna solidão do agro.
Não cuides, filha, que ele é o lobisomem
Noctambulando nos teus pesadelos:
Esse abantesma é SIMPLESMENTE um Homem
E os seus mistérios, quem há de entendê-los?
Antes que o mundo conflagrando-se arda
No desmoronamento derradeiro,
Saberás de repente que não tarda
A aparecer o grande Aventureiro.
Certo, novas terás deste homem pardo
De hirsuto pêlo e de melena ao vento:
Tem no jarrete o nervo do leopardo
Nos marnéis galopando de espavento.
Roga pois aos teus Anjos tutelares
Que removam de ti o horrendo aspeito
E, se um dia por ele resvalares,
Traça o sinal-da-cruz sobre o teu peito.
E que nunca essa elétrica pupila
A alma te escrute e o verbo lhe ouças nunca...
Não mais então serias tu tranquila
Sob a ameaça da sua garra adunca.
Já o seu tropel estrepitoso atroa...
Filha, sossega o coração e dorme.
Eu rezarei vesperalmente a noa
Que há de guardar-te da Ilusão enorme.
(José Severiano de Resende)
Certo, novas terás deste homem pardo
De hirsuto pêlo e de melena ao vento:
Tem no jarrete o nervo do leopardo
Nos marnéis galopando de espavento.
É Leviatã e Beemote, e luta
Como os mamutes, como os megalossauros,
Na expansão de uma força resoluta
Comandando ciclopes e centauros.
Desde os confins das brumas hiperbóreas
O seu rastro traçou tortuosas sendas:
Dele contam-se horríficas histórias,
Narram-se dele tétricas legendas.
Quantas línguas possui e quantos dentes,
Quantos idiomas há no seu regougo?
Lança dos olhos chispas transcendentes
E da fauce vomita sangue e fogo.
Nas suas múltiplas metamorfoses
Assemelha-se aos ogros e aos onagros
E imita muita vez do vento as vozes
Pela noturna solidão do agro.
Não cuides, filha, que ele é o lobisomem
Noctambulando nos teus pesadelos:
Esse abantesma é SIMPLESMENTE um Homem
E os seus mistérios, quem há de entendê-los?
Antes que o mundo conflagrando-se arda
No desmoronamento derradeiro,
Saberás de repente que não tarda
A aparecer o grande Aventureiro.
Certo, novas terás deste homem pardo
De hirsuto pêlo e de melena ao vento:
Tem no jarrete o nervo do leopardo
Nos marnéis galopando de espavento.
Roga pois aos teus Anjos tutelares
Que removam de ti o horrendo aspeito
E, se um dia por ele resvalares,
Traça o sinal-da-cruz sobre o teu peito.
E que nunca essa elétrica pupila
A alma te escrute e o verbo lhe ouças nunca...
Não mais então serias tu tranquila
Sob a ameaça da sua garra adunca.
Já o seu tropel estrepitoso atroa...
Filha, sossega o coração e dorme.
Eu rezarei vesperalmente a noa
Que há de guardar-te da Ilusão enorme.
tmanfrini- Guerra e Paz
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Re: Seu poeta (ou poetas) favorito(s)
O Relógio
Ao redor da vida do homem
há certas caixas de vidro,
dentro das quais, como em jaula,
se ouve palpitar um bicho.
Se são jaulas não é certo;
mais perto estão das gaiolas
ao menos, pelo tamanho
e quadradiço de forma.
Umas vezes, tais gaiolas
vão penduradas nos muros;
outras vezes, mais privadas,
vão num bolso, num dos pulsos.
Mas onde esteja: a gaiola
será de pássaro ou pássara:
é alada a palpitação,
a saltação que ela guarda;
e de pássaro cantor,
não pássaro de plumagem:
pois delas se emite um canto
de uma tal continuidade
João Cabral de Melo Neto
Ao redor da vida do homem
há certas caixas de vidro,
dentro das quais, como em jaula,
se ouve palpitar um bicho.
Se são jaulas não é certo;
mais perto estão das gaiolas
ao menos, pelo tamanho
e quadradiço de forma.
Umas vezes, tais gaiolas
vão penduradas nos muros;
outras vezes, mais privadas,
vão num bolso, num dos pulsos.
Mas onde esteja: a gaiola
será de pássaro ou pássara:
é alada a palpitação,
a saltação que ela guarda;
e de pássaro cantor,
não pássaro de plumagem:
pois delas se emite um canto
de uma tal continuidade
João Cabral de Melo Neto
Deco- Ana Karenina
- Mensagens : 305
Data de inscrição : 23/07/2011
Idade : 34
Re: Seu poeta (ou poetas) favorito(s)
Honra-me com teus nadas
Honra-me com teus nadas.
Traduz me passo
De maneira que eu nunca me perceba.
Confunde estas linhas que te escrevo
Como se um brejeiro escoliasta
Resolvesse
Brincar a morte de seu próprio texto.
Dá-me pobreza e fealdade e medo.
E desterro de todas as respostas
Que dariam luz
A meu eterno entendimento cego.
Dá-me tristes joelhos.
Para que eu possa fincá-los num mínimo de terra
E ali permanecer o teu mais esquecido prisioneiro.
Dá-me mudez. E andar desordenado. Nenhum cão.
Tu sabes que amo os animais
Por isso me sentiria aliviado. E de ti, Sem Nome
Não desejo alívio. Apenas estreitez e fardo.
Talvez assim te encantes de tão farta nudez.
Talvez assim me ames: desnudo até o osso
Igual a um morto.
- Hilda Hilst, in “Sobre a tua grande face”, 1986.
Honra-me com teus nadas.
Traduz me passo
De maneira que eu nunca me perceba.
Confunde estas linhas que te escrevo
Como se um brejeiro escoliasta
Resolvesse
Brincar a morte de seu próprio texto.
Dá-me pobreza e fealdade e medo.
E desterro de todas as respostas
Que dariam luz
A meu eterno entendimento cego.
Dá-me tristes joelhos.
Para que eu possa fincá-los num mínimo de terra
E ali permanecer o teu mais esquecido prisioneiro.
Dá-me mudez. E andar desordenado. Nenhum cão.
Tu sabes que amo os animais
Por isso me sentiria aliviado. E de ti, Sem Nome
Não desejo alívio. Apenas estreitez e fardo.
Talvez assim te encantes de tão farta nudez.
Talvez assim me ames: desnudo até o osso
Igual a um morto.
- Hilda Hilst, in “Sobre a tua grande face”, 1986.
Deco- Ana Karenina
- Mensagens : 305
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Idade : 34
Re: Seu poeta (ou poetas) favorito(s)
BRISA MARINHA
Tradução: Augusto de Campos
A carne é triste, sim, e eu li todos os livros.
Fugir! Fugir! Sinto que os pássaros são livres,
Ébrios de se entregar à espuma e aos céus
[ imensos.
Nada, nem os jardins dentro do olhar suspensos,
Impede o coração de submergir no mar
Ó noites! nem a luz deserta a iluminar
Este papel vazio com seu branco anseio,
Nem a jovem mulher que preme o filho ao seio.
Eu partirei! Vapor a balouçar nas vagas,
Ergue a âncora em prol das mais estranhas
[ plagas!
Um Tédio, desolado por cruéis silêncios,
Ainda crê no derradeiro adeus dos lenços!
E é possível que os mastros, entre ondas más,
Rompam-se ao vento sobre os náufragos, sem
[ mas-
Tros, sem mastros, nem ilhas férteis a vogar...
Mas, ó meu peito, ouve a canção que vem do
[ mar!
Mallarmé
Tradução: Augusto de Campos
A carne é triste, sim, e eu li todos os livros.
Fugir! Fugir! Sinto que os pássaros são livres,
Ébrios de se entregar à espuma e aos céus
[ imensos.
Nada, nem os jardins dentro do olhar suspensos,
Impede o coração de submergir no mar
Ó noites! nem a luz deserta a iluminar
Este papel vazio com seu branco anseio,
Nem a jovem mulher que preme o filho ao seio.
Eu partirei! Vapor a balouçar nas vagas,
Ergue a âncora em prol das mais estranhas
[ plagas!
Um Tédio, desolado por cruéis silêncios,
Ainda crê no derradeiro adeus dos lenços!
E é possível que os mastros, entre ondas más,
Rompam-se ao vento sobre os náufragos, sem
[ mas-
Tros, sem mastros, nem ilhas férteis a vogar...
Mas, ó meu peito, ouve a canção que vem do
[ mar!
Mallarmé
Deco- Ana Karenina
- Mensagens : 305
Data de inscrição : 23/07/2011
Idade : 34
Re: Seu poeta (ou poetas) favorito(s)
Brinquedo
(Moacir Amâncio)
Crianças cegas
à beira
de um
abismo.
Do fundo
vêm
os olhos.
Algo
morcego
nisto,
ou de vulcão.
(Moacir Amâncio)
Crianças cegas
à beira
de um
abismo.
Do fundo
vêm
os olhos.
Algo
morcego
nisto,
ou de vulcão.
tmanfrini- Guerra e Paz
- Mensagens : 1513
Data de inscrição : 29/09/2011
Idade : 31
Localização : Navegantes - SC
Re: Seu poeta (ou poetas) favorito(s)
AEDH DESEJA OS TECIDOS DO CÉU
Se eu tivesse, do céu, os tecidos
Drapejados, bordados com luz
De ouro e prata, e os escuros tecidos
Azuis da noite e a meia-luz
E a luz, deitava-os sob os teus pés:
Mas, pobre, tenho apenas meus sonhos;
Deitei meus sonhos sob os teus pés;
Pisa de mansinho, pois são meus sonhos.
W.B. Yeats
Se eu tivesse, do céu, os tecidos
Drapejados, bordados com luz
De ouro e prata, e os escuros tecidos
Azuis da noite e a meia-luz
E a luz, deitava-os sob os teus pés:
Mas, pobre, tenho apenas meus sonhos;
Deitei meus sonhos sob os teus pés;
Pisa de mansinho, pois são meus sonhos.
W.B. Yeats
Karenina- Crime e Castigo
- Mensagens : 870
Data de inscrição : 19/09/2011
Idade : 35
Re: Seu poeta (ou poetas) favorito(s)
Hedra vai lançar livro dele.
Oric- Crime e Castigo
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Data de inscrição : 18/12/2012
Re: Seu poeta (ou poetas) favorito(s)
Song of Myself
By Walt Whitman
1
I celebrate myself, and sing myself,
And what I assume you shall assume,
For every atom belonging to me as good belongs to you.
I loafe and invite my soul,
I lean and loafe at my ease observing a spear of summer grass.
My tongue, every atom of my blood, form’d from this soil, this air,
Born here of parents born here from parents the same, and their parents the same,
I, now thirty-seven years old in perfect health begin,
Hoping to cease not till death.
Creeds and schools in abeyance,
Retiring back a while sufficed at what they are, but never forgotten,
I harbor for good or bad, I permit to speak at every hazard,
Nature without check with original energy.
By Walt Whitman
1
I celebrate myself, and sing myself,
And what I assume you shall assume,
For every atom belonging to me as good belongs to you.
I loafe and invite my soul,
I lean and loafe at my ease observing a spear of summer grass.
My tongue, every atom of my blood, form’d from this soil, this air,
Born here of parents born here from parents the same, and their parents the same,
I, now thirty-seven years old in perfect health begin,
Hoping to cease not till death.
Creeds and schools in abeyance,
Retiring back a while sufficed at what they are, but never forgotten,
I harbor for good or bad, I permit to speak at every hazard,
Nature without check with original energy.
Karenina- Crime e Castigo
- Mensagens : 870
Data de inscrição : 19/09/2011
Idade : 35
Re: Seu poeta (ou poetas) favorito(s)
O dia triunfal de Fernando Pessoa
http://www.lpm-blog.com.br/?p=23665
http://www.lpm-blog.com.br/?p=23665
Oric- Crime e Castigo
- Mensagens : 948
Data de inscrição : 18/12/2012
Re: Seu poeta (ou poetas) favorito(s)
Leminski puxou o bonde mesmo: depois da Ana C. Cesar, a Cia lançará a poesia completa do Waly Salomão: http://www.blogdacompanhia.com.br/2014/03/waly-esta-aqui/
Oric- Crime e Castigo
- Mensagens : 948
Data de inscrição : 18/12/2012
Re: Seu poeta (ou poetas) favorito(s)
Raymond Queneau escreveu:Uma outra ideia muitíssimo falsa que mesmo assim circula atualmente é a equivalência que se estabelece entre inspiração, exploração do subconsciente e libertação; entre acaso, automatismo e liberdade. Ora, essa inspiração que consiste em obedecer cegamente a qualquer impulso é na realidade uma escravidão. O clássico que escreve a sua tragédia observando um certo número de regras que conhece é mais livre que o poeta que escreve aquilo que lhe passa pela cabeça e é escravo de outras regras que ignora.
Lembrei de uma entrevista em que o Gullar defendia essa inspiração súbita e metia o pau nos concretistas.
Oric- Crime e Castigo
- Mensagens : 948
Data de inscrição : 18/12/2012
Re: Seu poeta (ou poetas) favorito(s)
Estou degustando aos poucos. Que livro, amigos!
Comprei no momento para ler alguns romanos (cerca de 1/3 do livro [em tempo: Marcial é hilário]), mas foi também muito interessante ler alguns indianos, chineses, gregos (Safo e Alceu). Outra descoberta muito boa foi Issa, um dos três mestres do Haikai (que eu conheço pouco, como poesia em geral, mas tenho vontade de explorar). Agora iniciarei os Trovadores.
Os comentários do DP ao final do livro são bem bacanas também. É uma pena alguns autores possuírem tão pouco espaço, mas dá para entender o motivo.
Oric- Crime e Castigo
- Mensagens : 948
Data de inscrição : 18/12/2012
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