Literatura Russa
Gostaria de reagir a esta mensagem? Crie uma conta em poucos cliques ou inicie sessão para continuar.

Juan Carlos Onetti

5 participantes

Ir para baixo

Juan Carlos Onetti Empty Juan Carlos Onetti

Mensagem por Becco 17th fevereiro 2013, 8:25 am

Vim aqui postar algumas impressões sobre os contos de Onetti e qual não foi minha surpresa ao contastar que não havia um tópico sobre tão ilustre figura!
Pensei que o Ricardo tivesse feito um...

Bem, aqui vai:

Juan Carlos Onetti 1245873307_617_onetti

Juan Carlos Onetti

Juan Carlos Onetti (Montevidéu, 1º de julho de 1909 — 30 de maio de 1994) foi um romancista e contista uruguaio.
Vida

Filho de Carlos Onetti e Honoria Borges, Juan Carlos Onetti nasceu dia 1º de Junho de 1909, em Montevidéu, Uruguai.

Em 1930 casa-se Maria Amalia Onetti, sua prima, com quem teve um filho. Em 1933 separa-se de Maria Amalia. Um ano depois, casa-se com Maria Julia Onetti, sua outra prima, com quem fica até 1945. Casa-se ainda mais duas vezes.

Em 1955 publica A Vida Breve, obra fundacional de Santa Maria, sua cidade fictícia.

Em 1962 recebe o Prêmio Nacional de Literatura do Uruguai.

Em 1975 muda-se para Madrid, Espanha, onde fixa residência até seus últimos dias.

Embora não tenha chegado a completar o ensino secundário, Onetti apresenta em toda sua obra uma estrutura original, inovadora, que rende a ele o Prêmio Cervantes de literatura do ano de 1980.

Além do reconhecimento institucional, Onetti gozava de largo prestígio entre os escritores latino-americanos, como Gabriel García Márquez (de quem herdou boa parte da estrutura narrativa), Juan José Saer. Julio Cortázar, escritor e amigo, sobre ele constumava dizer: "el más grande novelista latinamericano" (o maior romancista latino-americano).

Além do ofício pelo qual é mundialmente reconhecido, ainda que de modo póstumo, suas habilidades propiciaram-lhe ainda outras posições prestigiosas, foi publicitário, diretor da Biblioteca da Prefeitura de Montevidéu e editor do jornal Marcha.

Entretanto, Onetti foi acima de tudo o demiurgo de Santa María, cidade ficcional que perpassa muitas de suas obras—assim como alguns dos seus personagens.

Em 30 de Maio de 1994, Juan Carlos Onetti morre em uma clínica de Madrid.

Obras

1939 El pozo
1941 Terra do Nada
1943 Para esta Noite
1950 A Vida Breve
1954 Los adioses
1959 Para Uma Tumba Sem Nome
1960 A Cara da Desgraça
1961 O Estaleiro
1962 O Inferno Tão Temido e Outros Contos
1964 Juntacadáveres
1973 A Morte e a Menina
1974 Tempo de Abraçar
1979 Deixemos Falar Ao Vento
1986 Presença e outros contos
1987 Quando Então
1993 Quando já não Importa
Desconocido El Posible Baldi

Onetti se destaca, a meu ver [e li pouco dele, mas o que li já foi o suficiente pra me elencar entre seus mais ferrenhos admiradores], por alguns fatores:

a) Sua linguagem. Onetti é pra ser lido em voz alta, por que sua linguagem é prenhe de poesia, de metáforas e de figuras intrigantes, mas, o melhor de tudo, ELE É POÉTICO SEM SER CHATO E SEM PRECISAR DIZER O TEMPO TODO QUE É POÉTICO! Ele é assim um poético com culhões, sem mimimi, uma poesia narrativa [ou narrativa poética] cábron!

b) Seus personagens. As figuras onettianas são praticamente não-personagens por que são, a princípio, antinarrativas. Passam a maior parte do tempo fumando, deitados na cama, refletindo sobre o quão fodidos eles estão. Mas, ao mesmo tempo, quando agem, o fazem de forma completamente noir, mas um noir latino, sem aquele toque blasé, mas meio desesperado e suicida. É difícil de explicar por que são duas tendências contrastantes que ele amalgama de forma surpeendente.

c) Seu mundo. Santa María. Onetti é o deus de Santa María, microverso que ele examina como um aquário de formigas. Mas não de forma naturalista [ou não seria Onetti], mas de forma patética, poética e, por que não?, paterna. Personagens secundários de um conto aparecem, bem mais velhos, como protagonistas de outros. Frases fazem referência a um cenário ou uma passagem de outras narrativas sem que isso afete a história principal. Os romances se interligam com os contos de forma tal que tudo que ele escreveu parece fazer parte de uma única história em um único [mas multifacetado] cenário. Mais ou menos como Guimarães Rosa e seu Sertão místico. No conto "A Morte e a Menina" [conto espetacular de mais de 50 páginas], os habitantes de Santa Maria falam de Juan María Brausen como se fosse Deus. Mais do que isso: substituem "Deus" por "Juan María Brausen" em qualquer expressão cotidiana, como "Que Brausen perdoe seus pecados"!!!! E ele não explica nada de quem seja esse Brausen que, literalmente, é Deus para aquele povo! Depois de algumas pesquisas, descobri que Brausen é o narrador do romance "A Vida Breve" e, além disso, é o criador da cidade de Santa María! criador por que a imaginou e a pôs no papel. Então, em certa medida, os personagens sabem que são personagens, meno o Brausen, que pensa que é criador, não criatura!

Tem dois livros de contos dele publicados por aqui com traduções diferentes, mas alguns contos em comum:

Tão triste como ela e outros contos, que saiu pela Cia. Das Letras e naquela coleçãozinha da Record que todo mundo acha no sebo:

Juan Carlos Onetti S_MLB_v_F_f_196694664_3812

Essa edição tem tradução e um texto sobre o autor de Eric Nepomuceno.

A outra é 47 contos de Juan Carlos Onetti, que também saiu pela Cia e na coleção Folha Literatura Ibero-Americana:

Juan Carlos Onetti 47_CONTOS_DE_JUAN_CARLOS_ONETTI_1312751897P Juan Carlos Onetti 1177975-250x250

A tradução [ótima] é da Josely Viana Baptista e tem um texto introdutório excelente do escritor Antonio Muñoz Molina.

Todos os contos do primeiro estão no segundo, com exceção de dois!
Estou com os dois aqui e comparo algumas vezes as traduções.

O que vim dizer é que ontem li o conto que abre os dois volumes, o primeiro que ele escreveu, "Avenida de Mayo - Diagonal Norte - Avenida de Mayo", nas duas traduções, e NÃO ENTENDI PORRA NENHUMA!

Aqui ele, pra quem quiser me explicar:


http://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/100107/trecho_47_contos.html

Juan Carlos Onetti 251004_1812853807727_1431508186_31728306_4540140_n


Última edição por Becco em 17th fevereiro 2013, 8:35 am, editado 1 vez(es)
Becco
Becco
Dostoiévski
Dostoiévski

Mensagens : 2525
Data de inscrição : 11/07/2011
Idade : 45
Localização : Fortaleza - CE

https://literaturarussa.forumeiros.com/

Ir para o topo Ir para baixo

Juan Carlos Onetti Empty Re: Juan Carlos Onetti

Mensagem por Becco 17th fevereiro 2013, 8:33 am

Algumas obras publicadas pela Planeta:

Juan Carlos Onetti 13007364 Juan Carlos Onetti 13007365

Juan Carlos Onetti 13007363 Juan Carlos Onetti 3242062
Becco
Becco
Dostoiévski
Dostoiévski

Mensagens : 2525
Data de inscrição : 11/07/2011
Idade : 45
Localização : Fortaleza - CE

https://literaturarussa.forumeiros.com/

Ir para o topo Ir para baixo

Juan Carlos Onetti Empty Re: Juan Carlos Onetti

Mensagem por tmanfrini 23rd fevereiro 2013, 1:44 am

Acho que o Avenida é bem aberto a interpretação...
Las ametralladoras se disimulaban en las terrazas, en los puestos de periódicos, en las canastas de flores, en las azoteas. Las había de todos los tamaños y todas estaban limpias, con una raya de luz fría y alegre en los cañones pulidos.
…Ante el tráfico de la avenida, quiso que las ametralladoras cantaran velozmente, entre pelotas de humo, su rosario de cuentas alargadas.

Boas capas da Planeta.
tmanfrini
tmanfrini
Guerra e Paz
Guerra e Paz

Mensagens : 1513
Data de inscrição : 29/09/2011
Idade : 31
Localização : Navegantes - SC

Ir para o topo Ir para baixo

Juan Carlos Onetti Empty Re: Juan Carlos Onetti

Mensagem por lavoura 23rd fevereiro 2013, 9:11 am

Só me despertou ainda mais o interesse em ler!

Becco o primeiro conto eu interpretei como o Suaid andando pela avenida Florida e se perdendo em pensamentos. Quando o ar está frio ele imagina-se no Alasca, sendo mais forte que o tempo.Depois enquanto caminhava um automóvel quis deter porém ele conseguiu continuar caminhando e "rouba" as duas luzes do carro e instala em seu devaneio no céu, imagina soldados e mais coisas enquanto caminha.
Depois creio que nesse trecho:

Mas as crostas de indiferença que tinham protegido sua inquietude estavam caindo, e o mundo exterior começava a alcançá-lo.

Sem necessidade de pensar nisso, iniciou o retorno pela Florida. A rua, deserta de devaneios, perdera a dentadura de Tangas's e a barba loira de Sua Majestade Imperial.

Ele começa a voltar a relidade porém quer voltar a seus pensamentos mas não consegue seguir pela linha já traçada e pelo mundo criado.
Então imagina metralhadoras por todos os lados e em todas as cidades:

Diante do trânsito da avenida, quis que as metralhadoras cantassem velozmente, entre bolas de fumaça, seu rosário de contas alongadas.

Porém:

Mas não conseguiu e virou-se para contemplar a Florida.

Volta a caminhar na avenida.

Eu pelo menos interpretei assim, para mim até a María Eugene não é real.
E o conto narra somente as viagens de um solitário andando pela avenida.



Aliás, que bons contos que o livro tem, não?
Aquele "Os beijos" é uma coisa linda!

lavoura
lavoura
Guerra e Paz
Guerra e Paz

Mensagens : 2350
Data de inscrição : 26/06/2012
Idade : 35

Ir para o topo Ir para baixo

Juan Carlos Onetti Empty Re: Juan Carlos Onetti

Mensagem por Becco 9th abril 2013, 8:09 pm

Gostei da sua interpretação, Ricardo. Vou ficar com ela. Very Happy
Becco
Becco
Dostoiévski
Dostoiévski

Mensagens : 2525
Data de inscrição : 11/07/2011
Idade : 45
Localização : Fortaleza - CE

https://literaturarussa.forumeiros.com/

Ir para o topo Ir para baixo

Juan Carlos Onetti Empty Re: Juan Carlos Onetti

Mensagem por lavoura 15th abril 2013, 10:04 pm

Лоренцо Бэкко escreveu:Gostei da sua interpretação, Ricardo. Vou ficar com ela. Very Happy

Só falei que iria ler o Onetti e está até hoje na estante Embarassed
Mas dos 3 ou 4 contos que li o que mais gostei foi esse "Os beijos". Cara muito bom aquilo. Dá vontade de decorar e ficar recitando
lavoura
lavoura
Guerra e Paz
Guerra e Paz

Mensagens : 2350
Data de inscrição : 26/06/2012
Idade : 35

Ir para o topo Ir para baixo

Juan Carlos Onetti Empty Re: Juan Carlos Onetti

Mensagem por tmanfrini 12th julho 2013, 12:29 am

Balada del ausente

Entonces no me des un motivo por favor
No le des conciencia a la nostalgia,
La desesperación y el juego.
Pensarte y no verte
Sufrir en ti y no alzar mi grito
Rumiar a solas, gracias a ti, por mi culpa,
En lo único que puede ser
Enteramente pensado
Llamar sin voz porque Dios dispuso
Que si Él tiene compromisos
Si Dios mismo le impide contestar
Con dos dedos el saludo
Cotidiano, nocturno, inevitable
Es necesario aceptar la soledad,
Confortarse hermanado
Con el olor a perro, en esos días húmedos del sur,
En cualquier regreso
En cualquier hora cambiable del crepúsculo
Tu silencio
Y el paso indiferente de Dios que no ve ni saluda
Que no responde al sombrero enlutado
Golpeando las rodillas
Que teme a Dios y se preocupa
Por lo que opine, condene, rezongue, imponga.
No me des conciencia, grito, necesidad ni orden.
Estoy desnudo y lejos, lo que me dejaron
Giro hacia el mundo y su secreto de musgo,
Hacia la claridad dolorosa del mundo,
Desnudo, sólo, desarmado
bamboleo mi cuerpo enmagrecido
Tropiezo y avanzo
Me acerco tal vez a una frontera
A un odio inútil, a su creciente miseria
Y tampoco es consuelo
Esa dulce ilusión de paz y de combate
Porque la lejanía
No es ya, se disuelve en la espera
Graciosa, incomprensible, de ayudarme
A vivir y esperar.
Ningún otro país y para siempre.
Mi pie izquierdo en la barra de bronce
Fundido con ella.
El mozo que comprende, ayuda a esperar, cree lo que ignora.
Se aceptan todas las apuestas:
Eternidad, infierno, aventura, estupidez
Pero soy mayor
Ya ni siquiera creo,
En romper espejos
En la noche
Y lamerme la sangre de los dedos
Como si la hubiera traído desde allí
Como si la salobre mentira se espesara
Como si la sangre, pequeño dolor filoso,
Me aproximara a lo que resta vivo, blando y ágil.
Muerto por la distancia y el tiempo
Y yo la, lo pierdo, doy mi vida,
A cambio de vejeces y ambiciones ajenas
Cada día más antiguas, suciamente deseosas y extrañas.
Volver y no lo haré, dejar y no puedo.
Apoyar el zapato en el barrote de bronce
Y esperar sin prisa su vejez, su ajenidad, su diminuto no ser.
La paz y después, dichosamente, en seguida, nada.
Ahí estaré. El tiempo no tocará mi pelo, no inventará arrugas, no me inflará las mejillas
Ahí estaré esperando una cita imposible, un encuentro que no se cumplirá.
tmanfrini
tmanfrini
Guerra e Paz
Guerra e Paz

Mensagens : 1513
Data de inscrição : 29/09/2011
Idade : 31
Localização : Navegantes - SC

Ir para o topo Ir para baixo

Juan Carlos Onetti Empty Re: Juan Carlos Onetti

Mensagem por tiago 23rd julho 2013, 5:23 pm

Li O Estaleiro, genial a construção de atmosfera e personagens!
tiago
tiago
Crime e Castigo
Crime e Castigo

Mensagens : 849
Data de inscrição : 17/07/2011

Ir para o topo Ir para baixo

Juan Carlos Onetti Empty Re: Juan Carlos Onetti

Mensagem por Bardamute 20th fevereiro 2014, 4:39 pm

Minha história é profunda com esse escritor, Onetti.
Quando fui pra Montevideo em 2012, já conhecia o autor, e perambulei por toda a cidade em busca de seus livros. Hoje tenho todos, que já foram lidos, todos. Na língua original. Gostoso, mesmo. Na época morava num pensionato no bairro Ciudad Vieja, fui até um hotel onde ele e Lautreamont! haviam se hospedado...
Hoje existe uma hamburgueria no lugar. Além de encontrar velhos que o conheceram, donos de sebos ou outros, conversávamos...
Ainda me lembro muito bem das primeiras frases de seu primeiro livro, El Pozo.

 "Hace un rato me estaba paseando por el cuarto y se me ocurrió de golpe que lo veía por primera vez. Hay dos catres, sillas despatarradas y sin asiento, diarios tostados de sol, viejos de meses, clavados en la ventana en lugar de los vidrios.
         Me paseaba con medio cuerpo desnudo, aburrido de estar tirado, desde mediodía, soplando el maldito calor que junta el techo y que ahora, siempre en las tardes, derrama adentro de la pieza. Caminaba con las manos atrás, oyendo golpear las zapatillas en las baldosas, oliéndome alternativa­mente cada una de las axilas. Movía la cabeza de un lado a otro, aspirando, y esto me hacía crecer, yo lo sentía, una mueca de asco en la cara. La barbilla, sin afeitar, me rozaba los hombros.
         Recuerdo que, antes que nada, evoqué una cosa sencilla. Una prostituta me mostraba el hombro izquierdo, enrojecido, con la piel a punto de rajarse, diciendo:
          —“Date cuenta el serán hijos de perra. Vienen veinte por día y ninguno se afeita”."

Posso lembrar disso a qualquer hora e em voz alta, declamar, sem saber o porque.
Onetti está na linha que vai de Céline a Faulkner, e dá pra perceber. Encarnou uma montevideo+ buenos aires+, provido duma utopia desesperançada, pra criar uma cidade fictícia. Que é ambiente da maioria de seus livros.

"la cita de hoy estropeo la noche de ayer!": Sonoro, pesado, paixão juvenil, Ideal da Mulher, da Sensualidade, Assassinato & Amor, solidão, prostíbulos, drops de menta, morfina, pensões velhas e decaídas, perseguição revolucionária, os cheiros que restam, portos, Médicos, chapéu, um dia foi pra espanha e não voltou mais pra Uruguay. É o mais difícil de entender...

Um vídeo, entrevista: https://www.youtube.com/watch?v=fcSfAhL-JtQ
Bardamute
Bardamute
Noites Brancas
Noites Brancas

Mensagens : 9
Data de inscrição : 29/10/2013

http://celinedecamisacastanha.blogspot.com.br/, bardamute.roon.i

Ir para o topo Ir para baixo

Juan Carlos Onetti Empty Re: Juan Carlos Onetti

Mensagem por Conteúdo patrocinado


Conteúdo patrocinado


Ir para o topo Ir para baixo

Ir para o topo


 
Permissões neste sub-fórum
Não podes responder a tópicos