Jorge Amado

"Não tenho nenhuma ilusão sobre a importância de minha obra", afirmou Jorge Amado. "Mas, se nela existe alguma virtude, é essa fidelidade ao povo brasileiro."

"Jorge Amado não escreveu livros, escreveu um país", afirmou Couto em 2008, em uma palestra em que prestou testemunho sobre a forte influência do autor sobre escritores africanos.

"Ele tinha o compromisso de ser uma espécie de narrador do Brasil, alguém que quer passar o país a limpo"

Um dos mais populares escritores brasileiros, tanto aqui como no exterior. Os trechos acima, inclusive, foram tirados de uma matéria da BBC, que fala da carreira e importância da obra, além de comentar dos lançamentos dele em inglês pelo selo "Penguin Classics". O segundo escritor brasileiro a aparecer na coleção, após Euclides da Cunha. http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2012/08/120810_amado_jc.shtml

Por possuir uma obra vasta, muitas vezes ficamos sem saber por onde começar. Selecionei algumas matérias elencando suas principais obras:
Sobre o livro "Essencial Jorge Amado": http://www1.folha.uol.com.br/livrariadafolha/798421-essencial-jorge-amado-destaca-as-principais-obras-do-romancista.shtml
Na lista da Bravo dos 100 melhores da lit. bras., ele aparece com: "Gabriela, Cravo e Canela" e "Terras do Sem Fim." http://educarparacrescer.abril.com.br/leitura/100-livros-essenciais-398904.shtml
Na Wikipedia colocaram: Gabriela, Dona Flor, Tieta e Capitães da Areia. http://pt.wikipedia.org/wiki/Jorge_Amado
Aqui uma matéria que comenta alguns de seus livros e também das adaptações para tv e cinema: http://ultimosegundo.ig.com.br/cultura/2012-08-10/centenario-de-jorge-amado-os-melhores-livros-filmes-e-programas-de-tv.html

Atualmente ele é publicado pela Cia. das Letras, numa bela coleção: http://www.companhiadasletras.com.br/autor.php?codigo=02516
Porém se encontra facilmente em sebos as edições antigas da Record, com preços bem baixos. Além de ser fácil de achar em qualquer biblioteca.

Por fim, deixo o site da Fundação Jorge Amado, que contém muitas informações sobre o autor e sua obra: http://www.jorgeamado.org.br/

Bom tópico!

Um dos meus escritores favoritos!

Amado por uns e odiado por vários aqui no fórum. Esse tópico vai render.

Onde começa a literatura e termina a ideologia? Um bom livro deixa de ser bom porque alguém não concorda com o ponto de vista do autor?

Quando o livro é mais panfletário que literário, prejudica sim a sua leitura.

Agora, ele tem livros excelentes, como Capitães da Areia, Tieta e Jubiabá.
Mas é um escritor irregular por que escreveu muito e se deixou levar demais pela esquerda.

Não li nada dele. Aqui em casa temos Jubiabá e Farda, fardão, camisola de dormir, mas nunca nem comeceu nenhum dos dois.

Olha só, não sabia que gostava tanto dele, Jabázaço!

Deixou bons questionamentos. Concordo quando o Becco diz "Quando o livro é mais panfletário que literário, prejudica sim a sua leitura".

Pelo que vi há uma certa divisão em sua obra, que vai de 1930 (O País do Carnaval) até 1954 (Os Subterrâneos da Liberdade) numa primeira fase mais marcada pelo aspecto ideológico; e de 1958 (Gabriela) em diante, onde ele busca mais aspectos humorísticos, retratar a sensualidade da mulher (até tem um box temático da Cia), religiosidade, boêmia etc.

De todo modo, já adianto que, na minha opinião, mesmo com uma preocupação ideológica na primeira fase, nem todos esses romances são panfletários.

Agora, a obra realmente é vasta e não dá para manter a qualidade sempre. Por sinal, acho que nenhum escritor consegue isso. Já houve críticas semelhantes aqui no fórum sobre o Saramago, Balzac (sem querer entrar no mérito da comparação). Resta separar o joio do trigo. Ler quem sabe uns seis romances, três da primeira fase, três da segunda, pode ser uma boa pedida.

Eu tinha que ter lido esse cara pra Fuvest. A segunda fase é amanhã. Pois é.

César vai ler o resumo!

Susse

Alguém pode postar um trecho que considere muito bom? Realmente quero tentar ler o Amado. Ficar de mimimi com o autor sem ter lido é algo que tenho tentado evitar.

Oric escreveu:Olha só, não sabia que gostava tanto dele, Jabázaço!

Gosto sim. O que li do autor:

A morte e a morte de Quincas Berro d'água (novela): Li faz tempo e não lembro de muita coisa. Mas não me marcou muito.

Mar morto (romance): Esse sim é um bom livro! Tomei gosto pelo autor com ele. A história é trágica com uma alta dose de lirismo e intensas emoções. E não tem nada de panfletário nele (ao que me consta). Curiosamente sumui da minha estante. Tenho impressão que a jararaca da minha ex-mulher surrupiou antes da mudança!

Capitães de areia (Romance): Excelente livro! Só tenho elogios! A única bobeada é no final do livro quando o verme comunista toma um pouco da obra mas não é nada que atrapalhe a leitura ou estrague a obra. Esse eu recomendo pra qualquer pessoa que queria começar a ler qualquer coisa.

Terras do sem fim (Romance). Lembro pouca coisa, mas não é um livro ruim. Só achei morno talvez porque li depois de Capitães. Mas é muito bem conceituado.

Ainda tenho aqui Jubiabá e Dona Flor. Quero conhecer a obra do autor no decorrer da minha vida.

Mat escreveu:Alguém pode postar um trecho que considere muito bom? Realmente quero tentar ler o Amado. Ficar de mimimi com o autor sem ter lido é algo que tenho tentado evitar.

Mateus, você é um rapaz jovem, inteligente e baiano. Aja como tal. Pegue um livro e leia. Se não gostar não continue. Simples assim.

Comece por Capitães ou Mar morto. Você tem sensibilidade pra ler esses livros (ao contrário do que você pensa de mim). Quer um trecho bem clichê?

"como é doce morrer no mar"

Esse Mar morto me parece uma boa pra começar, Jabá.

Valeu pelo comentário. Era o que eu precisava para finalmente comprar o livro. Mas, ainda aguardo algum quote mais extenso.

Na boa, Mateus, frase não define livro. Para de chorar e pedir frase, corre no sebo, compra um ai e lê logo.

Como todos que li foram da biblioteca, não tenho aqui para citar. De todo modo, teria dificuldade para fazê-lo, pois escolher uma frase só é difícil. Já acho complicado definir livro por sinopse!

Vou aproveitar o pontapé inicial do Jabá e comentar os que li.

Meu primeiro contato com a obra havia sido, tem um tempinho já (cerca de quatro anos), com Capitães da Areia, que havia gostado bastante, mas achado o final forçado. Depois fui ler Dona Flor e bateu uma decepção, larguei pela metade.

Ano passado embalado nos estudos de História do Brasil quis revisitar os autores do regionalismo de 30. Resolvi pegar os livros do Jorge Amado dessa época, fui por ordem cronológica:

O País do Carnaval - Romance de estréia, com apenas 18 anos! Claro que naturalmente haverá limitações aí, mas pela idade me surpreendeu. Basicamente trata de um grupo de amigos (em diferentes épocas da vida) em busca da felicidade e do sentido da vida, cada um seguindo (e defendendo em seus debates) um caminho: política, amor, dinheiro, religião ou mesmo a recusa de tudo. Fica a ideia de que, independente do caminho, é importante um sistema filosófico por trás. Como pano de fundo dá para sentir muito bem o clima do Brasil na época também.

Cacau - Aqui começa o ciclo do cacau, que se segue em: Terras do Sem Fim, São Jorge dos Ilhéus, Gabriela e Tocaia Grande. Dos que li esse é, em geral, o considerado mais panfletário. Até na epígrafe Amado deixa a questão: “Tentei contar neste livro, com um mínimo de literatura para um máximo de honestidade, a vida dos trabalhadores das fazendas de cacau do sul da Bahia. Será um romance proletário?” Acho que ele se aproxima muito aqui de um Germinal, do Zola (mais naturalista do que panfletário?). Retrata a dura vida dos trabalhadores do Cacau de uma forma honesta, como ele disse. Além disso, essa situação leva o protagonista do livro ao socialismo. Panfletário ou não, achei a construção do personagem bem feita, não me pareceu forçado. Ou seja, dentro daquele sentido, está certo, daí se o leitor concorda ou não com as ideias (bem mais focadas na exploração do trabalhador do que no socialismo) é outro assunto. A título de comparação, diria que algumas obras do Gorki (já comentei no tópico) seriam mais panfletárias que essa (se é que é possível fazer uma escala dessas). Para resumir essa confusão (inclusive na minha cabeça ): me pareceu mais naturalista do que panfletário. O naturalismo seria menos literário? (daria um tópico)

O post já está muito grande e não vai dar tempo de continuar. Depois comento as que faltam.

Suor - Se Cacau remete a Zola, Suor parece uma atualização d'O Cortiço de Aluísio Azevedo. Jorge Amado mostra a vida dos mais diversos tipos de personagens num cortiço, que é também um personagem na obra. Belas descrições.



Jubiabá - Um baita romance de formação. Que grande personagem é Antônio Balduíno! Um capitão de areia que ao longo da vida vai exercendo diversos papéis na tentativa de sobreviver. Não é a toa que Albert Camus gostou tanto do livro. Dos que eu li até agora, é o meu favorito do autor.



Mar Morto - Aqui Jorge Amado retrata a vida dos trabalhadores do cais da Bahia. Livro mais lírico e (talvez?) romântico do que os anteriores. Esse me marcou menos.

Está aí uma bibliografia sem fim. Também um grande hit dos sebos.

Oric escreveu:
Mar Morto - Aqui Jorge Amado retrata a vida dos trabalhadores do cais da Bahia. Livro mais lírico e (talvez?) romântico do que os anteriores. Esse me marcou menos.

Oric, dos poucos que li achei Mar Morto um dos melhores. Livro bastante intenso.

Não deixe de ler Jubiabá, Jabá!



Um dos grandes sucessos de Jorge Amado, Capitães da Areia é um ótimo livro sobre os meninos-de-rua da Bahia na década de 1930.



Terras do Sem Fim e São Jorge dos Ilhéus são dois livros que se complementam. O primeiro mostra a conquista da terra, a destruição da mata, as plantações de cacau, o surgimento das vilas, a luta sangrenta dos coronéis por poder (daria uma série a la Hatfields & McCoys com facilidade), como eles dominam a justiça e tudo mais. O segundo já trata do período posterior, urbanizado, quando as casas exportadoras e os capitalistas estrangeiros dominam a região através de seu poderio econômico. Jorge Amado retrata muitíssimo bem a vida e os costumes da região (embora histórias parecidas ocorreram ao redor do mundo) através de um grande número de personagens, assim como as mudanças políticas e sociais. Romance histórico de primeira.

Gostei dessa capa de Jubiabá. Um 69 a quatro em 360 graus. Cada um cheirando o cu do outro, legal.

Já li Terras do sem fim. Uma obra mediana (porém famosa) do Jorge.

Esse link mostra como Jorge Amado é admirado na Russia. LEIAM, vale a pena.amerika.

revues.org/4546