O que você está lendo?

lavoura escreveu:

Lendo só agora o presente de amigo secreto aqui do fórum. Muito bom livro, principalmente por ser a estréia do Dostoievski.
Valeu Césa!

lavoura escreveu:E o McCarthy é tão fodão que o climax começa na primeira página e só termina na última.

Jabá escreveu:Será se lê mesmo?  

Becco escreveu:

Muito bom. Recomendo demais.

lavoura escreveu:Espero que tenha  terminado de ler Meridiano de Sangue.
Senão nem me diga mais nada.

Decepcionado!

Macho, o livro é bem fininho e peguei no ônibus pra ler só um capítulo e, quando vi, já tava na metade.
Vou terminar esse e depois volto pro McCarthy.

O capítulo em questão é o 28, sobre o CU. Lembrei demais do Mateus.

Becco escreveu:

lavoura escreveu:Espero que tenha  terminado de ler Meridiano de Sangue.
Senão nem me diga mais nada.

Decepcionado!

Macho, o livro é bem fininho e peguei no ônibus pra ler só um capítulo e, quando vi, já tava na metade.
Vou terminar esse e depois volto pro McCarthy.

O capítulo em questão é o 28, sobre o CU. Lembrei demais do Mateus.

Milan Kundera escreveu:O cu. Também podemos dizê-lo de outro modo como Guillaume Apollinaire: a nona porta do teu corpo. O poema dele sobre as nove portas do corpo da mulher existe em duas versões: a primeira, enviou-a o poeta à sua amante Lou, numa carta escrita das trincheiras no dia 11 de Maio de 1915, a outra, enviou-a do mesmo local a uma outra amante, Madeleine, no dia 21 de Setembro do mesmo ano. Os poemas, ambos belos, diferem pela imaginação, mas foram compostos da mesma maneira: cada estrofe é consagrada a uma das portas do corpo da bem-amada: um olho, o outro olho, um ouvido, o outro ouvido, a narina direita, a narina esquerda, a boca, a seguir, no poema para Lou, “a porta do teu traseiro” e, finalmente, a nona porta, a vulva. Contudo, no segundo poema, o poema para Madeleine, sobrevém no final uma curiosa troca de portas. A vulva recua para o oitavo lugar e é o cu, abrindo-se “entre duas montanhas de pérola”, que será a nona porta: “ainda mais misteriosa do que as outras”, a porta “dos sortilégios de que não ousamos falar”, a “suprema porta”.

Penso nesses quatro meses e dez dias que separam os dois poemas, quatro meses que Apollinaire passou nas trincheiras, mergulhado em devaneios eróticos intensos que o levaram a esta mudança de perspectiva, a esta revelação: é o cu o ponto miraculoso em que se concentra toda a energia nuclear da nudez. A porta da vulva é importante, claro (claro, quem se atreveria a negá-lo?), mas demasiado oficialmente importante, local registrado, classificado, controlado, comentado, examinado, experimentado, vigiado, cantado, celebrado. A vulva: encruzilhada ruidosa onde se encontra a humanidade tagarela, túnel por onde passam as gerações. Só os tolos se deixam convencer da intimidade deste local, o mais público de todos. O único local verdadeiramente íntimo, perante cujo tabu até os filmes pornográficos se dobram, é o cu, a porta suprema; suprema porque a mais misteriosa, porque a mais secreta.

Esta sabedoria, que custou a Apollinaire quatro meses passados debaixo de um firmamento de obuses, Vicent alcançou-a no decorrer de um só passeio com Julie, tornada diáfana pelo luar.

Sesacional.

Vontade doida de postar no Facebook, mas eu seria demitido.

César escreveu:Parece bom, Becco.