Rubem Fonseca

Gourmet escreveu:Poderia ser sim, Jabá, mas eu também acho que poderia ser o Vilela, do CASO MOREL.

Esse é um dos melhores contos do livro que, como um todo, já é espetacular. É uma coisa que preciso reler.

Fico na frente da televisão para aumentar o meu ódio.
Quando minha cólera está diminuindo e eu perco a vontade de
cobrar o que me devem eu sento na frente da televisão e em pouco
tempo meu ódio volta. Quero muito pegar um camarada que faz
anúncio de uísque. Ele está vestidinho, bonitinho, todo
sanforizado, abraçado com uma loura reluzente, e joga pedrinhas
de gelo num copo e sorri com todos os dentes, os dentes dele são
certinhos e são verdadeiros, e eu quero pegar ele com a navalha e
cortar os dois lados da bochecha até as orelhas, e aqueles dentes
branquinhos vão todos ficar de fora num sorriso de caveira
vermelha.

Curva a cabeça, mandei.
Ele curvou. Levantei alto o facão, seguro nas duas mãos, vi
as estrelas no céu, a noite imensa, o firmamento infinito e desci o
facão, estrela de aço, com toda minha força, bem no meio do
pescoço dele.
A cabeça não caiu e ele tentou levantar-se, se debatendo
como se fosse uma galinha tonta nas mãos de uma cozinheira
incompetente. Dei-lhe outro golpe e mais outro e outro e a cabeça
não rolava. Ele tinha desmaiado ou morrido com a porra da
cabeça presa no pescoço. Botei o corpo sobre o pára-lama do
carro. O pescoço ficou numa boa posição. Concentrei-me como um
atleta que vai dar um salto mortal. Dessa vez, enquanto o facão
fazia seu curto percurso mutilante zunindo fendendo o ar, eu
sabia que ia conseguir o que queria. Brock! a cabeça saiu rolando
pela areia. Ergui alto o alfange e recitei: Salve o Cobrador! Dei um
grito alto que não era nenhuma palavra, era um uivo comprido e
forte, para que todos os bichos tremessem e saíssem da frente.
Onde eu passo o asfalto derrete.

Ana me ensinou a usar explosivos e acho que
já estou preparado para essa mudança de escala. Matar um por
um é coisa mística e disso eu me libertei. No Baile de Natal
mataremos convencionalmente os que pudermos. Será o meu
último gesto romântico inconseqüente. Escolhemos para iniciar a
nova fase os compristas nojentos de um supermercado da zona
sul. Serão mortos por uma bomba de alto poder explosivo. Adeus,
meu facão, adeus meu punhal, meu rifle, meu Colt Cobra, adeus
minha Magnum, hoje será o último dia em que vocês serão
usados. Beijo o meu facão. Explodirei as pessoas, adquirirei
prestígio, não serei apenas o louco da Magnum.

Lorenzo Becco escreveu:Jabá é doentio. Cruzes!

PS: Mas é lindo mesmo.

Lorenzo Becco escreveu:Tem o filme em que o Lázaro Ramos é o Cobrador, mas nunca vi por que tenho medo de não estar à altura.

Lorenzo Becco escreveu:E ainda tem a estreia do Mandrake!

Gourmet escreveu:http://veja.abril.com.br/231209/maldito-passado-p-206.shtml

César escreveu:Zeca Baleiro, Jabá? O senhor já teve mais respeito

Jabá escreveu:

Terminei. Nossa, li em dois dias!
Apesar de ser um livro "menor" do escritor, de maneira nenhuma esse termo significa baixa qualidade na obra do velho. Só significa que fica [um pouco] aquém do ápice de sua produção se comparado com os clássicos OS PRISIONEIROS, LUCIA MCCARTNEY, O COBRADOR, FELIZ ANO NOVO, etc.
A despeito do título, a temática gira em torno do título proposto. A obra é permeada de referências diretas ou indiretas a fluxo menstrual, peido, pus, merda, cera de ouvido, sangue, porra, hálito, etc.
Os melhores contos sem dúvida se resumem a:
CROPOMANCIA: Sujeito descobre como advinhar o futuro analisando a própria merda;
A NATUREZA EM OPOSIÇÃO À GRAÇA: Sujeito passa a beber sangue de vaca pra se tornar mais cabrón e comer a amiga;
O ESTUPRADOR: Onde um sujeito se apaixona por uma dona e a sequestra e amarra só para chupar sua pústula;
O CORCUNDA E A VÊNUS DE BOTTICELLI: Onde um corcunda, leva a vida seduzindo mulheres a partir da sua vasta cultura, fazendo-as escravas e submissas. Nesse conto, o corcunda transforma uma linda e delicada loira burra numa expert em poesia só pra ter o prazer de foder com uma gata inteligente. Isso lembrou muito um amiche daqui do fórum que tem esse tipo de fetiche.
Além desses, a maioria dos outros contos tem a marca fonsequiana de qualidade superior. Recomendo!

Mat escreveu:

Jabá escreveu:

Terminei. Nossa, li em dois dias!
Apesar de ser um livro "menor" do escritor, de maneira nenhuma esse termo significa baixa qualidade na obra do velho. Só significa que fica [um pouco] aquém do ápice de sua produção se comparado com os clássicos OS PRISIONEIROS, LUCIA MCCARTNEY, O COBRADOR, FELIZ ANO NOVO, etc.
A despeito do título, a temática gira em torno do título proposto. A obra é permeada de referências diretas ou indiretas a fluxo menstrual, peido, pus, merda, cera de ouvido, sangue, porra, hálito, etc.
Os melhores contos sem dúvida se resumem a:
CROPOMANCIA: Sujeito descobre como advinhar o futuro analisando a própria merda;
A NATUREZA EM OPOSIÇÃO À GRAÇA: Sujeito passa a beber sangue de vaca pra se tornar mais cabrón e comer a amiga;
O ESTUPRADOR: Onde um sujeito se apaixona por uma dona e a sequestra e amarra só para chupar sua pústula;
O CORCUNDA E A VÊNUS DE BOTTICELLI: Onde um corcunda, leva a vida seduzindo mulheres a partir da sua vasta cultura, fazendo-as escravas e submissas. Nesse conto, o corcunda transforma uma linda e delicada loira burra numa expert em poesia só pra ter o prazer de foder com uma gata inteligente. Isso lembrou muito um amiche daqui do fórum que tem esse tipo de fetiche.
Além desses, a maioria dos outros contos tem a marca fonsequiana de qualidade superior. Recomendo!

Jabá, o texto dele apresenta esses elementos interligados na realidade do texto ou ele só é escroto pra chocar?
Digo, ele, além dessas putarias, consegue desenvolver personagens e enredos?
Quero muito ler, mas queria saber o que me espera.

Jabá escreveu:

Mat escreveu:

Jabá escreveu:

Terminei. Nossa, li em dois dias!
Apesar de ser um livro "menor" do escritor, de maneira nenhuma esse termo significa baixa qualidade na obra do velho. Só significa que fica [um pouco] aquém do ápice de sua produção se comparado com os clássicos OS PRISIONEIROS, LUCIA MCCARTNEY, O COBRADOR, FELIZ ANO NOVO, etc.
A despeito do título, a temática gira em torno do título proposto. A obra é permeada de referências diretas ou indiretas a fluxo menstrual, peido, pus, merda, cera de ouvido, sangue, porra, hálito, etc.
Os melhores contos sem dúvida se resumem a:
CROPOMANCIA: Sujeito descobre como advinhar o futuro analisando a própria merda;
A NATUREZA EM OPOSIÇÃO À GRAÇA: Sujeito passa a beber sangue de vaca pra se tornar mais cabrón e comer a amiga;
O ESTUPRADOR: Onde um sujeito se apaixona por uma dona e a sequestra e amarra só para chupar sua pústula;
O CORCUNDA E A VÊNUS DE BOTTICELLI: Onde um corcunda, leva a vida seduzindo mulheres a partir da sua vasta cultura, fazendo-as escravas e submissas. Nesse conto, o corcunda transforma uma linda e delicada loira burra numa expert em poesia só pra ter o prazer de foder com uma gata inteligente. Isso lembrou muito um amiche daqui do fórum que tem esse tipo de fetiche.
Além desses, a maioria dos outros contos tem a marca fonsequiana de qualidade superior. Recomendo!

Jabá, o texto dele apresenta esses elementos interligados na realidade do texto ou ele só é escroto pra chocar?
Digo, ele, além dessas putarias, consegue desenvolver personagens e enredos?
Quero muito ler, mas queria saber o que me espera.

Mat, os personagens do Fonseca são densos e profundos. Esses elementos não seriam exatamente algo como "a cereja do bolo" mas é um elemento importante. Sempre vejo a obra dele como uma espécie de forte crítica ao caráter humano e um escancaramento das profundezas da nossa alma.
Tudo que temos de ruim (ou bom), nossos desvios, nossas falhas e taras são abordadas de forma constrangedoramente natural nos textos dele.
Acho que o choque não é a idéia principal, mas ele a explora de forma secundária, o que torna o texto bem mais interessante. O Gourmet e o Becco, que leram mais do que eu com certeza tem algo mais a acrescentar pra te convencer.
Acho que você tá perdendo tempo. Tente ler dois ou três livros de contos, nós já recomendamos alguns. Tenho certeza que você vai gostar.

Mat escreveu:Sim, eu lerei com certeza. Provavelmente devo iniciar com esse "Secreções, excreções e desatinos"

Valeu pelos esclarecimentos.

Jabá escreveu:

Jabá escreveu:Mat, os personagens do Fonseca são densos e profundos. Esses elementos não seriam exatamente algo como "a cereja do bolo" mas é um elemento importante. Sempre vejo a obra dele como uma espécie de forte crítica ao caráter humano e um escancaramento das profundezas da nossa alma.
Tudo que temos de ruim (ou bom), nossos desvios, nossas falhas e taras são abordadas de forma constrangedoramente natural nos textos dele.
Acho que o choque não é a idéia principal, mas ele a explora de forma secundária, o que torna o texto bem mais interessante.

Gourmet escreveu:A impressão que tenho é que, ao contrário dos escritores que tentam ganhar leitores, ele escolhe os leitores pela tolerância à verdade. Rubem choca pela honestidade sincera. Ele entende das coisas, foi policial civil, e tem postura de cronista amoral de um mundo cheio de erotismo, violência e caos. Sua obra está em franca sintonia com a realidade.

Talvez o mais fascinante seja realmente essa mecânica caótica dos fatos na obra do Rubem. A justiça é um fator acidental. Não há intervenções divinas, não há ordem e as pessoas tem manias - podem ser compulsões inofensivas como graves, mas elas existem, assim como ocorre no mundo real.

Jabá escreveu:Terminei esse. Achei o romance de estréia do Fonseca um pouco insosso.

Lorenzo Becco escreveu:No Carrefour daqui só tem Crepúsculo e Augusto Cury.