[LITERATURA PORTUGUESA] José Saramago

Ocorre que, quando leio certos autores ou livros, parte da literatura se torna obsoleta. Não é um fenômeno frequente, mas acontece. Isso se deu com Saramago e tenho grande admiração pela obra dele, mas creio que perdeu consistência na fase final.

Aqui, dois trechos que não me ofendem, mas parecem desnecessários:

"O lógico, o natural, o simplesmente humano seria que abraão tivesse mandado o senhor à merda, mas não foi assim. Na manhã seguinte, o desnaturado pai levantou-se cedo para pôr os arreios no burro..."

"Disse então aos criados, Fiquem aqui com o burro que eu vou até lá adiante com o menino, para adorarmos o senhor e depois voltamos para junto de vocês. Quer dizer, além de tão filho da puta como o senhor, abraão era um refinado mentiroso, pronto a enganar qualquer um..."

Lorenzo Becco escreveu:Certamente.

Se o véio nunca quis publicar, coisa boa não é.

O PauloLeminski, aquele cachorro-louco, dizia a mesma coisa.

Saramago é meu escritor preferido (Ensaio sobre a cegueira é o numero-1 da minha lista), mas concordo com voces que "Ensaio sobre a lucidez" é chatissimo. Caim e o Elefante sao meia-boca; Homem Duplicado, Todos os nomes e Intermitencias sao legais mas nao chegam aos pes do Ensaio sobre a cegueira. O filme ate que tentou, mas ficou longe, muito longe do livro.

Estou muito curioso pra ler esse Lobo Antunes (ate comprei o "Meu nome é legiao", titulo foda demais, que so perde pra "O diabo solto em Moscou" auahuha), so que pelo que eu ja pude ver, folheando o livro, o cara escreve de um jeito diferente: me parece que tem pensamentos se atravessando o tempo todo no meio das falas dos personagens e ate no narrador. Corrijam se eu estiver errado. Vasculhando as sinopses dos livros desse cara me chamou a atencao "os cus de judas" (cu de judas, pqp), "conhecimento do inferno" e "ontem nao te vi babilonia". Alguem conhece? Sao bons?

Quero

Li O Ensaio Sobre a Cegueira e Intermitências da Morte. Gostei muito dos doisa, mas principalmente do primeiro.

Não cheguei a assisitir o filme e não sinto vontade de faze-lo. Meu irmão, que não leu o livro, disse que o filme é horrível. "Muito violento" ele disse. Não sei exatamente como foi o filme ou qual era a expectativa dele, mas quando li o livro vi que na capa estava escrito que "Ensaio sobre a cegueira era uma viagem ao inferno", então tinha uma noção do que eu encontraria no livro.

No começo confesso que estranhei o excesso de violência, mas creio que seja proposital. Não é a toa que a epígrafe do livro é "Se podes olhar, veja. Se podes ver, repare". Saramago joga a merda em todo o lado, e, sutilmente, levanta os sentimentos mais puros do ser humano, como compaixão, solidariedade e carência. Passagens como a transa do velho da venda preta com a rapariga de oculos escuros, ou quando a velha do primeiro andar chora após expulsar o grupo são exemplos - tocantes - de demonstrações desses sentimentos. Ao fim, o livro acaba sendo um retrato cru, triste e comovente da fragilidade do ser humano. Pretendo reler algum dia.

Entre outras obras dele, pretendo ler O Evangelho Segundo Jesus Cristo.

Mat escreveu:Mas, assim, acho que o cara merece respeito. Tanto escritor que eu gosto que tem fase ruim... Uns livrinhos menores nunca foi motivo pra desvalorizar obra completa de determinado autor.

Bem por aí.

Do Saramago só li, já tem um bom tempo, Ensaio Sobre a Cegueira e ... Lucidez. Gostei muito de ambos, nem entendo as grandes críticas ao segundo: acho a temática geral do livro muito interessante e criativa, além de um bom desenvolvimento. Foi um livro que me prendeu de uma maneira atípica, inclusive.

Por recomendações de amigos fiquei muito curioso por As Intermitências da Morte, O Homem Duplicado e Jangada de Pedra. E eu já tinha um interesse inicial pelo Levantado do Chão e Evangelho Segundo Jesus Cristo. Daí tinha planejado para esse ano, sem sucesso, um tour pela obra dele, que deixei para o próximo ano. Vou listar as obras dele que eu encontrar (felizmente tem muita coisa dele nas duas bibliotecas da cidade, não vou precisar gastar) por aqui e tentar elaborar um plano de leitura. Sem dúvidas o belo post inicial do Gourmet vai contribuir para isso. Gostei bastante da divisão feita da obra.

Li esses dias o 1o livro dele, "O Memorial do Convento". Achei ate legal, mas nada como o "Ensaio sobre a Cegueira" (insuperavel na minha opiniao), ou o "Intermitencias..." ou o "Evangelho segundo Jesus Cristo".

Um que eu tenho e que ta na fila é o "Ano da Morte de Ricardo Reis" e um que eu com certeza vou comprar é "A Caverna".

https://www.youtube.com/watch?v=QCACUZly3DM

Saramago no Roda Viva, 2003.

Becco escreveu:Eu acho "O Memorial do Convento" muito melhor que o "Intermitências da Morte".

Todos os Nomes aborda o mesmo tema, mas é bem melhor conduzido, bem mais alegórico e rico que o Intermitências.

A Jangada de Pedra
José Saramago
Nesse livro, Saramago cria uma grande parábola sobre o destino contando a história do desligamento literal da Península Ibérica do resto da Europa e como, a partir desse fato, a história, e por que não a vida, que não começa no nascimento e sim quando ela é despertada, seja por sentir a terra tremer ou arremessar uma pedra numa distancia sobre-humana, de cinco personagens que são ligadas através de um grande fio de lã azul, que graças ao tamanho só podemos ver a ponta, sem jamais saber onde termina. Além disso, a trama é ilustrada por diversas referencias a história e cultura da ‘’península’’, mostrando assim a grande linha da espécie humana no geral. O livro também apresenta diversos pontos recorrentes na prosa do autor, como cenários apocalípticos, o fascínio com nomes e o sobrenatural fantástico, revelando muito do que viria a seguir.
A Jangada de Pedra é um dos grandes livros de Saramago, e recomendo a todos aqueles que já se encantaram com a obra do mestre.

P.S.: E uma pasta sobre literatura portuguesa, rola?

Peguei "As Intermitências da Morte" na biblioteca. Premissa muito boa, assim como o primeiro terço do livro. Interessante como ele mostra o impacto da ausência da morte em vários setores da sociedade: em poucas páginas consegue dizer muita coisa (com seu estilão próprio e tudo mais). Porém o livro cai demais quando ele começa a falar da morte (aquela!), ainda mais quando ela conhece o violoncelista -- pior parte, apesar da última página belíssima. Algumas possibilidades metafóricas e tal, mas acabou não convencendo. De todo modo, foi uma leitura rápida, se o estilo do Saramago gera um estranhamento no começo, depois de um tempo flui bastante. Deixo uma citação (termina com vírgula porque é parte de um diálogo):

Sim, mas, ao contrário do que se julga, não são tanto as respostas que me importam, senhor primeiro-ministro, mas as perguntas, obviamente refiro-me às nossas, observe como elas costumam ter, ao mesmo tempo, um objectivo à vista e uma intenção que vai escondida atrás, se as fazemos não é apenas para que nos respondam o que nesse momento necessitamos que os interpelados escutem da sua própria boca, é também para que se vá preparando o caminho às futuras respostas,